‘Alice no País das Maravilhas’, de Lewis Carroll, faz 150 anos

É ano de festa para Alice, a famosa personagem do matemático inglês Lewis Carroll (1832-1898) que entrou na toca do coelho e caiu num universo onírico que vem intrigando e encantando gerações e mais gerações ao longo dos últimos 150 anos.

“Alice no País das Maravilhas” foi publicado na Inglaterra no final de 1865 e há mais de um século caiu em domínio público. A abundância de edições da obra – em sua versão integral ou recontada -, aliada aos filmes, desenhos, animações e peças, só ajudam a manter o mito vivo e as vendas, dizem as editoras, valem a pena. Só a Zahar, que lançou uma edição de bolso e capa dura em 2010, quando o filme de Tim Burton estreou, já vendeu 150 mil exemplares da obra. É o clássico mais popular da coleção que tem feito muito sucesso entre os jovens. “É uma loucura ver aquelas pessoas com pilhas de clássicos na mão no estande da Bienal”, comenta Mariana Zahar, sócia da editora e colecionadora de Alice.

Antes disso, ela havia publicado, em 2002, uma edição comentada que soma 30 mil exemplares comercializados, e publica agora uma versão comemorativa, com “Alice no País das Maravilhas” e sua continuação “Alice Através do Espelho” (1971). A tradução é a mesma premiada de Maria Luiza Borges, mas as ilustrações de Adriana Peliano, presidente da Sociedade Lewis Carroll do Brasil, são novas. “Creio que as colagens que fiz são fruto de anos de amadurecimento como artista, leitora, pesquisadora e uma espécie de Alice, uma ‘especialice'”, conta. Essas colagens foram feitas sobre as ilustrações originais de John Tenniel, presentes em boa parte das edições brasileiras. “Com isso, proponho um diálogo entre a Inglaterra vitoriana e o mundo contemporâneo, assim como um confronto entre Alice e a história da arte por meio de outros artistas que participam dessas colagens”, conclui.

A artista Rosângela Rennó também criou sua Alice para a Cosac Naify, que está lançando um box com esses dois volumes de Carroll: Alice Através do Espelho, com o trabalho recente de Rennó, e o outro, de 2009, ilustrado por Luiz Zerbini e traduzido por Nicolau Sevcenko. A experimentação não para por aí. Em 2014, a Globo publicou uma versão ilustrada pela artista japonesa Yayoi Kusama, que criou uma Alice um tanto diferente daquela que está no imaginário de quem cresceu, por exemplo, com a animação da Disney como referência. São novas caras para uma obra que renova, a cada ano, seu público – e tudo muito diferente daquele volume da Companhia Editora Nacional de 1931, um dos primeiros que se tem notícia no País, traduzido e adaptado por Monteiro Lobato e ilustrado por A. L. Bowley.

Outras edições estão chegando ou vão chegar às livrarias até o fim do ano – a obra original foi lançada para o Natal. No prelo da Rafael Copetti Editor está uma adaptação da obra feita por um anônimo na Inglaterra, em 1903, que também já virou clássica por ser mais enxuta, mas ainda assim com todo o nonsense. A tradução é de Dirce Waltrick do Amarante e deve sair em outubro. A Poetisa prevê, para o fim do ano, uma tradução de Alice Através do Espelho, por Cynthia Costa, cujo mestrado foi sobre este título. E para quem quer conhecer outro trabalho de Carroll, a dica é esperar o romance Silvia e Bruno, traduzido por Sérgio Medeiros para a Iluminuras e na programação para 2016. É dele, também, a tradução de Alice no Jardim da Infância, a adaptação do próprio Carroll que ganha agora tradução de Marina Colasanti para a Galerinha.

Dirce e Sérgio são estudiosos também de James Joyce, para quem Carroll foi uma referência. Eles publicam em breve um volume com as cartas trocadas pelo autor e sua benfeitora, Harriet Weaver, e numa de 28 de março de 1928 ele comenta que está lendo a biografia do autor de Alice. Uma nota dos tradutores explica que Carroll e seu livro aparecem frequentemente em Finnegans Wake.

Encantou Joyce e encanta muita gente. Para a psicanalista Diana Corso, autora de Fadas no Divã, Carroll, com Alice, construiu um portal de acesso à lógica do inconsciente. “Ele consegue escrever a história inteira em linguagem onírica e resgata a experiência do sonho de angústia”, conta. Há quem diga que esta não é um conto de fadas, como J. R. R. Tolkien e Bruno Bettelheim, que ela cita, porque Alice não vive num lugar de fantasia – ela acorda do sonho. “Mas um sonho é um lugar mágico, um lugar onde nos acontecem coisas de verdade. Carroll empresta o caráter maravilhoso ao sonho e o sonho empresta o caráter maravilhoso à vida.” Para a psicanalista, Alice, uma das primeiras heroínas da ficção para crianças, é um mito literário e sobrevive porque ainda tem algo a dizer.

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