Alice in Chains toca com o instinto de outra era do Rock

Se existiam dúvidas quanto à recuperação do Alice in Chains, elas foram respondidas prontamente, às 22h de quinta-feira, 19, com os primeiros grunhidos da guitarra de Jerry Cantrell na Cidade do Rock.

Sob a liderança do herói do grunge, os veteranos de Seattle desferiram uma hora de peso torpe sobre a multidão do festival. De forma lenta, confiante e viscosa, ressuscitaram e ao mesmo tempo enterraram Layne Staley, o cantor cuja morte, por overdose, é um fantasma para os músicos do grupo desde 2002.

O show pertence à turnê do disco The Devil Put Dinossaurs Here, e de fato este abraço à condição de espécie extinta (velhos são os tempos em que bandas deste quilate protagonizaram uma narrativa tão influente), faz do Alice in Chains um peça rara.

Tocam com a mesma intensidade, recriando o instinto destrutivo que envolve os riffs de discos como Facelift, mas por não tentarem reviver os tempos de Seattle, se desprendem da nostalgia geralmente associada a turnês de bandas com mais de vinte anos de estrada. Chegam assim, a um patamar de show ao vivo no nível de Pearl Jam, seus colegas mais famosos, e menos amaldiçoados, do grunge.

É curioso notar que, mesmo no tempo de Layne Staley, o maestro da banda sempre foi Cantrell. Assim, a presença do substituto William Duvall não é uma aberração, e resulta na fiel reconstrução dos trejeitos da banda. Entre eles, estão as etéreas harmonias vocais dividas por Cantrell e Duvall. Pairam hipnóticas sobre o peso da banda, adicionando um toque de religiosidade ao som.

A dupla entre o baixista Mike Inez e o baterista Sean Kinney, juntos há 20 anos, também merece respeito pela sincronia telepática com que forma a cama para Cantrell. Este, aparentemente ainda em seu auge, acabou por roubar a cena com uma feroz execução de riffs que deixam claro, em um festival deste tamanho, o quanto o metal ainda é a arma mais eficaz para fazer o público tremer em suas bases.

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