Alexandre Borges sempre arrebatou o coração das mulheres com seus personagens. Mas em Caminho das Índias, na pele de Raul, o jogo se inverteu. Nas ruas, o ator continua atiçando as fãs. Mas, na ficção, o personagem se deixou levar pelos encantos da psicopata Yvone, de Letícia Sabatella, e vai ter de arcar com as consequências. “O Raul vai dançar nas mãos dela”, adianta o intérprete.
Se o casal de protagonistas da novela das oito ainda não decolou, a história entre os personagens de Alexandre Borges e Letícia Sabatella estourou desde o início. O ator não esconde a satisfação de ver um trabalho repercutir logo de cara, mas diz que começar uma novela com um personagem quente tem seu riscos. “A história já chegou acontecendo. Não é um personagem que cresce aos poucos. Então tive que apostar em um estilo e confiar que ia dar certo”, explica o ator.
A julgar pela resposta do público, deu certo. Mas Alexandre diz que o fato de fazer par romântico pela terceira vez com a atriz Letícia Sabatella eles já contracenaram em A muralha e Desejo proibido não facilita nesse sentido. “A Letícia é muito profunda e absorve os personagens. Mudamos muito de um papel para outro e não há como pré-estabelecer uma fórmula achando que sempre vai funcionar”, explica Alexandre.
P – O papel do sedutor você já interpretou algumas vezes em novelas. Como é agora ser o seduzido da história?
R – Acho bem interessante. Porque o Raul é um personagem frágil emocional e psicologicamente. Ele está tentando mudar a sua vida e sente que ninguém o entende. Aí chega a Yvone e percebe todas as suas fraquezas. Diz as coisas que ele quer ouvir na hora em que ele deseja ouvir. Por isso ele se deixa levar. Acredito que Raul reflete bem o homem contemporâneo e gosto da possibilidade de abordar isso na novela.
P – Você acredita que os homens de hoje se identificam com o seu personagem?
R – Nós vivemos uma época de muita competição. As pessoas estão sem religiosidade, não há espaço para a espiritualidade. Todo mundo é pouco equilibrado e pouco centrado em si mesmo. Meu personagem traz essa discussão. O Raul é um estressado, quase um depressivo. Ele ficou anos trancado em uma empresa para dar boas condições de vida à mulher e à filha.
Só que percebeu que não é feliz. E quando uma pessoa chega a essa conclusão, às vezes acaba atropelando gente ao seu redor. Passa por egoísta e individualista. Não faço o personagem para que as pessoas torçam por ele. Mas quero que entendam o que o levou a tomar essas atitudes.
P – E pela resposta do público até agora, você acha que estão entendendo?
R – As reações são bem diversas. Tem gente que compreende, geralmente os homens. O público masculino reage de maneira bem diversa do feminino. E estou gostando de explorar esse universo. Acho legal um casal acompanhar a novela e começar a discutir essas questões do casamento. Estamos mostrando um casal com todas as suas nuances do cotidiano.
Briga, desgaste, renovação da união, o que significa para um homem ter apenas uma mulher na vida. Novela é um produto bem feminino, mas adoro mostrar o lado masculino da questão. Há momentos em que ele tenta recuperar a mulher. Faz um convite para um jantar mas aí ela diz que vai levar a amiga junto! A gente quer passar a idéia de que a Yvone é a grande responsável por essa separação. Queremos valorizar o casamento e faço isso de maneira muito natural.
P – O casamento de 15 anos com a atriz Julia Lemmertz ajuda nessa composição?
R – Sou casado com a Julia há 15 anos, tenho um filho, estou com 43 anos de idade e tamb&eac,ute;m passo por minhas crises, minhas dúvidas. É a questão do homem contemporâneo que já citei e que tem um pouco de mim também. Daqui a pouco chego aos 50 anos. A tal da crise da meia-idade que tanto dizem não é brincadeira, não.
P – Ser um ator que fascina tanto as mulheres não ajuda a amenizar essa crise da meia-idade?
R – Eu sou um homem casado, mas adoro as mulheres. Acho importante saber se relacionar com elas. Conviver bem com amigas, tratar bem as fãs. O carinho do público feminino é algo que me estimula, sem dúvida. Mas geralmente o assédio por parte delas é bem respeitoso.
P – Em algum momento fazer o papel do galã o incomodou?
R – Não, e sempre me preparo quando vou cumprir essa função. Alguns falam da dificuldade de encontrar galãs mas acho que hoje temos uma variedade bem maior do que antes. Lembro-me da época em que alternavam Tarcísio Meira com Francisco Cuoco e às vezes colocavam o Cláudio Marzo no meio. Mas é que mesmo hoje tendo mais opções a renovação é complicada porque as pessoas gostam de determinado ator e só querem aquele.
De qualquer forma sempre procuro estar bem. Cuidar da imagem, ter uma preocupação com o cabelo, com o figurino, com a postura. E sempre tento criar diferenças entre um e outro, mesmo que sejam sutis. Sem contar que já fiz personagens históricos, um alcoólatra, um traficante…
P – Mas você tem uma formação teatral e fez cinema antes de estrear na tevê. O que te fascina nesse veículo?
R – A qualidade da equipe com que você trabalha na tevê é maravilhosa. Todo mundo é “filet mignon” na área em que atua. Grandes atores, um competente pessoal técnico. Mas sempre vi e gostei de tevê e o que mais me fascina é o fato de ser um veículo popular. Muitas vezes você não pode complicar muito, tem de ser bem claro para que todos o entendam e isso é um exercício interessante.