Estamos na semana de moda e o Ritz Paris, o hotel mais chique da cidade, vive dias de ebulição com o entra e sai de super celebridades. Paparazzi a postos na Place Vendôme flagram Kate Moss, Kim Kardashian, Margot Robbie e os neo galãs de Stranger Things, todos hospedados ali, assim como Ana Wintour, a temida editora da Vogue. Esse é o epicentro do luxo global e é exatamente por isso que o brasileiro Alexandre Birman, CEO do grupo Arezzo&Co, decidiu armar a apresentação da coleção de verão de sua marca homônima em um dos grandes salões do lobby.
Suas sandálias finas e esculturais foram exibidas em aparadores dourados e instalações tridimensionais e multicoloridas, refletindo o mote da coleção inspirada na Pop Art e no movimento cinético. A recepção classuda e intimista atraiu a nata da moda internacional na terça, 24, e fechou com chave de ouro uma maratona de Birman pelas quatro capitais da moda internacional, cumprindo uma agenda de eventos dedicada à internacionalização da marca.
“Well Done”, decretou Anna Wintour, em uma validação que, mais tarde, arrancou lágrimas de Birman. Durante a visita, ela deu aval aos cabedais tramados e decorados das sandálias, aos saltos pilares, ao uso de franjas e até aos solados de bicos quadrado (bem anos 1990), que prometem virar febre no verão. Birman, por sua vez, explicou que além de ser designer, preside um grupo gigantesco de sapatos, com seis marcas e 750 lojas no Brasil.
“O foco da expansão está no mercado norte-americano. Mas essa é uma estratégica reversa. Paris é o destino mais nobre, um objetivo de marketing, onde as compradoras e as pessoas influentes desse universo se concentram nessa época do ano. O que fazemos aqui repercute em Nova York, São Paulo, em todo canto”, diz Birman, um homem elegante de 43 anos, bem vestido, bem relacionado e totalmente situado na lógica que rege o mercado das grifes globais.
Sua turnê começou em setembro em Nova York, em uma festa da revista Vanity Fair, passou por uma reunião badalada de influenciadores nas loja de departamentos Harrods, em Londres, seguida por um jantar igualmente bombado nas redes sociais. Na sequência, uma viagem à Milão, durante os desfiles, garantiu visitas estratégicas a showrooms importantes, culminando dias depois nessa exposição no Ritz Paris. “Relacionamento é importante. Só é lembrado quem é visto”, diz ele.
Respeitado como presidente da companhia fundada pelo pai, Anderson Birman, em 1972, Alexandre vem sendo reconhecido lá fora especialmente como um designer, ou melhor, um shoemaker (papel que acaba ficando em segundo plano Brasil). Assim, segue os passos dos grandes sapateiros de luxo, como o francês Loubotin, o espanhol Manolo Blahnik e malaio Jimmy Choo, decidido a transformar seu nome em sinônimo de objetos de desejo para os pés. Para isso, trabalha em frentes variadas, nas quais investe na sofisticação e inventividade dos sapatos, todos com fabricação própria no Sul do Brasil, ao mesmo tempo em que amplia os pontos de venda e constrói sua reputação fashion. “Tudo tem que ser constante e gradual. Como diz meu pai: piano piano se va lontano”.
Poucas companhias brasileiras ligadas à moda conseguiram se estabelecer no exterior aliando imagem a resultado de vendas. A H. Stern, a Osklen e as Havaianas tiveram certo êxito. Nenhuma delas, no entanto, fez a lição de casa como a Arezzo&Co. Basta observar o posicionamento dos sapatos de Birman nas maiores lojas de departamento de Nova York.
Na ala de calçados da Bergdorf Goodman, a prateleira de Alexandre Birman fica ao lado da Dior e ocupa quase o mesmo espaço destinado à Valentino. “Suas criações têm aura fashion, ele não faz sapatos banais”, diz Roopal Pate, diretora de moda da Saks. “Birman desenvolve sapatos realmente especiais, conectados com o espírito do tempo”, reforça Erica Russo, diretora de moda da Bloomingdales.
Amparada em bons indicadores comerciais, a primeira loja própria da marca foi inaugurada recentemente na Madison Avenue, a poucas quadras do showroom que acaba de ser triplicado, e agora conta com 500 m². A decoração, inspirada no visual minimalista da etiqueta Birman, flerta com o modernismo brasileiro em mobiliários e formas orgânicas, remetendo à arquitetura de Niemeyer. “Minha marca tem 100% do meu DNA. Não gosto de nada extravagante, nada forçado”, diz.
Numa estratégia de valorização, todas as sandálias recebem nomes femininos. A mais emblemática se chama Clarita, é formada praticamente por um laço e foi o primeiro hit da grife. Nesta coleção, ganham destaque a Femme, a Brunella e a Dalilah, todas com geometrias e efeitos metalizados. Graças ao contato com figurinistas e stylists, não é raro ver atrizes hollywoodianas, como Meryl Streep e Gwyneth Paltrow, andarem com modelos de Birman. Já a Schutz, outra marca do grupo que conquistou expressiva presença internacional, com endereços próprios em Nova York, Beverly Hills, Miami e Dallas, aposta no marketing digital, com redes de influenciadoras.
Nenhuma delas, no entanto, chega aos pés de Anna Wintour. Durante o encontro no Ritz, Birman ouviu de Wintour que ele deveria criar uma ação em prol da Amazônia. Com o aumento das queimadas, a indústria da moda vem sendo fortemente cobrada em relação à procedência da matéria-prima, lembrando que o maior motivo de desmatamento é a pecuária (a Arezzo&Co. trabalha com curtumes e gado do Sul do País). Birman mais do que depressa concordou com sugestão e emendou: “A Vogue nos apoiaria?”. “Yes!”, respondeu Anna. Como dizem as blogueirinhas, vem coisa boa por aí.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.