No livro “Vida de Cinema”, que já chegou às livrarias, Cacá Diegues lembra o exílio, em Paris, durante a ditadura militar, e faz repetidas referências a um amigo do Brasil, o cineasta Pierre Kast. Ele morreu no mesmo dia e ano de François Truffaut, e isso terminou por selar seu destino na memória do cinéfilo. Alexandra Stewart agora resgata não só a figura como o legado de Pierre Kast. Pierre quem? Embora nunca tenha conseguido se impor na Nouvelle Vague, ele foi importante. Pierre Kast filmou a liberdade amorosa, outorgando um papel decisivo às mulheres. As dele nunca foram submissas e, em “Le Bel Age”, constituído de três esquetes, um deles adaptado de Alberto Moravia, ele revelou uma jovem canadense que faria história no cinema francês.

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Pense nas musas da Nouvelle Vague – Jeanne Moreau, Anna Karina, Bernardette Laffont e… Alexandra Stewart. Canadense, ela desembarcou em Paris aos 19 anos para estudar filosofia e fazer cursos de pintura e escultura. Pierre Kast primeiro (Le Bel Age/Amores Fracassados) e Jacques Doniol-Valcroze na sequência (L’Eau a la Bouche/Amor Livre) lhe deram seus primeiros papéis, e logo ela estava filmando com Otto Preminger (Exodus). Na volta de Israel, recebeu um telefonema do produtor inglês Albert Broccoli, que lhe oferecia o papel de protagonista feminina de uma aventura de espionagem. Achou que o papel não era para ela e indicou sua amiga Ursula Andress, que saiu do mar naquele biquíni, virando mito sexual em O Satânico Doutor No, ao lado de um certo Sean Connery.

Alexandra Stewart preferiu ser uma atriz ‘cabeça’, mas isso não significa que não tivesse sex-appeal. Foi sempre uma beleza esportiva, à qual somava cultura + sensibilidade. Ela se lembra, em Mon Bel Age, pagando tributo a Pierre Kast.

O livro da Editora L’Archipel, 238 págs., é uma festa para cinéfilos. Você pode encomendá-lo pela internet, mas seria bom se saísse no Brasil. Um dia, Alexandra cruzava a Fontaine Saint Michel quando encontrou o jovem Louis Malle. Ele lhe ofereceu um café e um papel em Zazie no Metrô, que Alexandra recusou para ir às touradas, na Espanha. Mas achou-o sedutor.

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Tempos depois, Malle chamou-a para outro papel em “30 Anos Esta Noite”. Casaram-se, tiveram uma filha e ele escreveu Black Moon para a mulher. Alexandra vive até hoje na casa que Malle lhe comprou em Fontenay sous-Bois. Volta e meia pega o metrô e anda por Saint Germain. Entra nos cafés que frequentava com Jean-Paul (Sartre) e Simone (de Beauvoir). Seu amor pelas touradas a aproximou de Orson Welles, Picasso e Hemingway. A jovem de Montreal viveu uma vida de sonho na França. Comenta os olhos azuis do roteirista Paul Gégauff (dos filmes de Claude Chabrol), o humor infantil de François Truffaut, a generosidade de Chris Marker. Mas seu relato mais intenso é sobre Malle, embora seja curioso o que diz de Maurice Ronet, o ator de 30 Anos Esta Noite. “Era reservado, um pouco misterioso, mas uma grande alma. Se para uma mulher é difícil ser muito bonita, para um homem, como ele, devia ser mais ainda.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.