Alex Klein apresenta obra antiguerra para platéia dos Estados Unidos

d11a.jpgOboísta leva outra mensagem à Conferência do Texas. Sem a pretensão de ofender os povo americano que o acolheu durante 20 anos, o músico curitibano, Alex Klein se apresentou nesta quarta-feira (8) no moderno Bates Hall da Universidade do Texas, em Austin, capital do estado, a obra antiguerra do inglês Benjamin Britten – Temporal Variations – para uma platéia de cerca de 600 pessoas.

Depois de cinco anos, é a primeira vez que o oboísta da Orquestra Sinfônica de Chicago volta a se apresentar na Conferência Internacional de Instrumentos de Palhetas Duplas. A última foi em 2000, na Argentina, no teatro Colón de Buenos Aires, quando teve que retornar ao palco por 6 vezes para ser aclamado por uma platéia de 2 mil pessoas.

Este ano, Klein trouxe uma outra mensagem à Conferência no Texas, a dura obra Temporal Variations de Benjamin Britten, para oboé e piano. Escrita em 1936, a obra é um testemunho seu contra a possibilidade do mundo entrar em mais uma guerra mundial. Britten, que nasceu logo antes da primeira grande guerra, participou de movimentos antiguerra durante sua juventude.

A obra, que Klein tem apresentado regularmente em seus recitais no Brasil, Europa e Estados Unidos nos últimos 2 anos, apresenta Britten implorando ao mundo que desista do rumo da guerra. ?O tema nada mais é que uma musicalização da palavra ?basta?, e durante os 10 minutos de duração da obra, Britten descreve o caminho da guerra, a destruição que a sucede, e, curiosamente, ensina ao ouvinte como o mundo pós-guerra é impossível de ser previsto, e como as tradições que formam a base cultural dos países é afetada sem possibilidade de retorno. A obra termina de maneira dramática com o oboé tocando a toda força, o tema principal: ?basta?, enquanto o piano representa, tristemente, a indiferença das pessoas frente ao caos que o mundo estava se dirigindo na época?, explicou Alex Klein para a platéia de estudantes da universidade do Texas.

Austin é a capital que já foi sede do gabinete de George W. Bush quando exerceu o cargo de governador do Texas antes de ser eleito presidente dos EUA. Klein fez questão de explicar à audiência, cada detalhe da obra lembrando a todos que Britten deixa uma questão em aberto ao final. ?A obra termina com uma harmonia aberta, deixando aos ouvidos do público a decisão de ter um final feliz ou não, escolhendo entre sol maior (representando a paz) ou sol menor (representando a agressão)?, explicou, acrescentando que, no final do recital, pediu ao público presente que fizesse sua própria decisão a respeito do fim da obra: ?Britten deixou nas mãos de vocês ouvintes, que atitude tomar com respeito a este tema. ?Assim sendo, a última variação deste tema deve ser a atitude que cada um de vocês poderá tomar após ouvir as variações que ele escreveu.? complementou.

Após a apresentação da obra de Britten, Klein encerrou seu recital com sua versão da Suite  para flauta e jazz trio de Claude Bolling. Explicando à platéia que a obra é uma inspiração musical trazida da África, desenvolvida nos Estados Unidos, composta por um compositor francês, tocada por um brasileiro, e com um dos movimentos dedicados à canção irlandesa. ?Com esta obra, espero inspirar a todos vocês que o caminho para o nosso futuro coletivo é o multiculturalismo, a união de nossas mentes e corações para obtermos um futuro melhor para todos?, disse Klein.

Ele deixa claro, porém, que sua opinião antiguerra não é uma crítica geral aos americanos, e sim um alerta às decisões do presidente americano de continuar a guerra no Iraque. ?Este país foi criado com base no multiculturalismo e no respeito a todos os povos?, diz Klein. ?É triste ver que não há compatibilidade entre as decisões sobre a guerra do Iraque e a bela história dos Estados Unidos, e nós, artistas e compositores, temos nas mãos uma oportunidade de demonstrar essa incompatibilidade por meio de nossa arte, assim como Britten o fez em 1936.? E conclui dizendo que o verdadeiro americanismo é o movimento que apóia a volta daquele país às tradições e princípios que o trouxe até os dias atuais, incluindo a luta pela paz mundial, assim como a liberdade de todos livremente expressarem sua opinião, ressaltou ele.

Klein prossegue com sua turnê mundial com concertos e palestras no Canadá, China, Venezuela, México, Alemanha, França e Inglaterra. Nesta última escala, apresentará mais uma vez a obra de Britten, desta vez ao público britânico, levando a eles a mesma explicação dos desejos pacifistas daquele que foi um dos maiores compositores britânicos de todos os tempos.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo