Após ser visto em cadeia nacional na Band desde o início de 2003, Romildo Ribeiro Soares reforçou a imagem de ser um dos campeões de aparição na televisão brasileira. Mais conhecido como missionário R. R. Soares, além do “Show da Fé” na Band, ele já era “figurinha fácil” em produções semelhantes nas emissoras Rede TV! e CNT. O surpreendente, no entanto, é a Band exibir o programa de R. R. Soares em pleno horário nobre, entre 20:30 h e 21:15 h, e alterar a própria programação de segunda a sábado para encaixar o “Show da Fé”. Alcançando um solitário ponto de média e sem intervalo comercial, a conclusão é que a emissora deve ter embolsado um bom dinheiro para alugar o horário.
Tanto que, antes de R. R. Soares entrar em cena, a Band exibe um comunicado lembrando que o conteúdo do “Show da Fé” não é de sua responsabilidade. R. R. Soares faz questão de ressaltar que o programa não é religioso. Mas, pelo próprio nome, é óbvio que a produção busca arrebanhar “novas ovelhas” para a Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada pelo próprio R. R. Soares. Não por acaso, ao final do programa, Soares informa que os espectadores podem se associar à igreja pela “módica” quantia de R$ 30 – “É só R$ 1 por dia”, ressalta.
Na verdade, a produção passou por uma pequena reformulação para ser exibida na Band. É gravada no mesmo teatro da igreja em São Paulo, só que o palco recebeu um piso mais claro e a iluminação foi reforçada. Perto do que é visto na CNT – onde R. R. Soares avisa que o contrato está acabando e, por isso mesmo, se transferiu para a Band – realmente ficou melhor. Mas para ser considerado bom, falta muito ainda para o “Show da Fé”.
Gravado com aproximadamente quatro câmaras e acompanhado por uma platéia fervorosa, “Show da Fé” reproduz um culto religioso. O pastor R. R. Soares dá conselhos de como se aproximar de Deus, além de interpretar passagens da Bíblia e responder a perguntas que envolvem questões do tipo “Por que Deus aceita que crianças nasçam com deficiências físicas?” Nestas ocasiões, R. R. Soares busca respostas nas próprias escrituras e não deixa de lembrar momentos de sua trajetória para servir de exemplo de como superar situações difíceis. Com uma linguagem que vai do tom informal à oratória religiosa, o missionário vai, aos poucos, se exaltando em frente às câmaras.
O ápice da “pregação” acontece no final e é justamente quando o espectador pode se surpreender. Afinal, a Band já foi conhecida por transmitir esportes olímpicos e debates políticos, e por já ter produzido novelas do porte de “Os Imigrantes”. É quando R. R. Soares faz uma prece e avisa, em alto e bom som: “Agora, quero milagres aqui e pelo Brasil afora!”. Em seguida, pede para o público fazer testemunhos de dores que estava sentindo antes da prece e, como num passe de mágica, sumiram logo depois. Neste momento, várias pessoas presentes garantem que a dor de cabeça desapareceu, o pé desinchou, a gastrite passou…
A questão, no entanto, não é discutir o poder de cura da prece de R. R. Soares, mas o que leva a Band a exibir este tipo de programa num horário em que os concorrentes colocam no ar os seus principais produtos e não em faixas alternativas, como fazem as outras emissoras. Neste caso, fica claro que a Band está mais preocupada em reforçar o orçamento do que em oferecer uma opção de qualidade para o espectador.
Já R. R. Soares – que é cunhado de Edir Macedo, dono da Record e líder da Igreja Universal do Reino de Deus -segue com o plano de montar uma nova rede nacional de televisão: a Rede Internacional de Televisão. Ele já possui uma geradora em Dourados, no Mato Grosso do Sul, e, sem alarde, vai instalando retransmissoras pelo país. Enquanto não atinge seu objetivo, vai ocupando horários de emissoras abertas que não se importam em exibir programas como o “Show da Fé”.