Helena Ranaldi: ?Queda por
homens mais velhos?.

Ser professora de Educação Física nunca passou pela cabeça de Helena Ranaldi. Mas, seduzida por seu gosto pelos esportes, foi esta a faculdade que ela resolveu cursar enquanto resistia à vocação artística. Depois de 13 anos trabalhando como atriz, no entanto, Helena garante que vai precisar de umas aulas caso tenha de “mostrar serviço” em “Mulheres Apaixonadas”, onde interpreta a professora Raquel. “Sou formada há muitos anos, nunca trabalhei com isso e não sei o que fazer”, admite, num misto de preocupação e divertimento.

Tão despojada e adepta de uma vida saudável quanto Raquel, Helena enumera uma série de coincidências entre as duas. A principal é o impulso profissional na saída de São Paulo para o Rio de Janeiro, que a atriz viveu no começo da carreira. A sensação de deixar tudo para trás em busca de uma vida nova já serviu de inspiração. “Mas as semelhanças terminam por aí”, frisa ela, com um sorriso recatado. É que Raquel foge de uma relação mal-resolvida do passado. Os detalhes ainda são mantidos em segredo pelo autor, Manoel Carlos, mas a situação envolve violência doméstica.

Helena faz questão de dizer ainda que dificilmente teria um envolvimento com um menino de 18 anos, como o que acontece entre Raquel e Fred, personagem de Pedro Furtado. “Acho uma relação difícil e, além disso, sempre tive uma queda por homens mais velhos”, entrega, meio moleca. Mas, na sua opinião, a dificuldade maior reside no fato de serem professora e aluno. “A situação deixa de ser um problema só dos dois”, avalia.

Na vida pessoal, Helena também já teve medo de “misturar as coisas”. Casada com o diretor Ricardo Waddington -responsável por “Mulheres Apaixonadas” e pela maioria dos trabalhos da atriz na Globo -, ela temia levar os problemas de casa para o trabalho. Coisa que ficou no passado. “Trabalhamos bem juntos. Isso pode ser uma questão para o público, para a imprensa, mas deixou de ser para mim”, encerra, com a determinação que costuma emprestar a suas personagens.

P – O fato de se envolver com um menino de 18 anos pesou na construção da Raquel?

R – Minha preocupação inicial, assim como a do autor, é a de apresentar a personagem. O relacionamento é uma coisa que vai acontecer depois. No início, os dois personagens têm uma sintonia, uma empatia muito grande, se sentem bem um com o outro. Não existe atração física, nem desejo sexual. É a própria história de vida dos dois que vai conduzir a isso. Acho que o Maneco conduz isso muito bem, a relação está se desenvolvendo devagarinho, muito aos poucos. Esta preparação vai fazer com que seja uma coisa bonita, intensa, verdadeira. É um relacionamento difícil porque, além de uma grande diferença de idade, tem o fato de serem professora e aluno, o que é ainda pior.

P – Você acha que o preconceito é maior neste caso?

R – Acho que deixa de ser um problema só dos dois. O fato de uma mulher viver um romance com um garoto não diz respeito a mais ninguém a não ser a eles próprios. Neste caso, tem uma situação profissional. É o trabalho dela, ela está misturando as coisas, acaba não resistindo… Possivelmente isso vai trazer um problema enorme para ela, para a escola, para a mãe deste menino. É uma situação bem problemática.

P – Como o público tem reagido à possibilidade do romance entre os dois?

R – Acho que as pessoas ainda falam muito em cima do que estão vendo, como se fosse uma coisa assim, de repente. Se o envolvimento acontecesse agora, de cara, nem eu acreditaria.

P – Mas, logo no primeiro capítulo, a Raquel já escrevia o nome do Fred no espelho, depois de tê-lo visto nadando uma única vez…

R – Era uma cena difícil, porque todo mundo pensa isso mesmo. Mas construí uma historinha na minha cabeça para fazer aquilo. Ela realmente fica meio hipnotizada quando vê aquele menino nadando, pergunta pelo nome dele, tem informação de quem é. Ela tem uma ligação forte com a água, com aquele espaço meio solitário… Aí ela sai, tem um dia agitado, o cachorro é atropelado, ela pega a moto do Cláudio, chega em casa exausta, liga o chuveiro e literalmente desmaia. Depois, acorda com aquela névoa do chuveiro, meio acordada, meio dormindo, vê aquele “flashback” com as imagens do dia, lembra o nome dele e escreve no espelho. É uma coisa solta, sem compromisso. Isso foi o que construí na minha cabeça. É claro que as pessoas pensam que ela pode estar apaixonada. É a versão delas, mas não a da Raquel. Tanto é que em nenhum outro momento, em nenhuma outra cena que eu tive com ele, houve um só olhar de interesse, de malícia ou de sedução.

De São Paulo para o Rio

Assim como Raquel, Helena também trocou São Paulo pelo Rio de Janeiro em busca de uma oportunidade profissional. A atriz, de 36 anos, saiu de sua cidade natal aos 23 e logo estreou na tevê, como a Stefânia de “Ana Raio e Zé Trovão”, da extinta Manchete, em 1990. Antes disso, no entanto, apesar de reconhecer que adorava “fazer caras e bocas na frente do espelho” desde criança, Helena resistiu muito à vocação artística. Daí a decisão de cursar Educação Física. Mas a atriz ainda estava na faculdade quando surgiram os primeiros comerciais. Ela aproveitou o dinheiro para pagar um curso de Teatro com o diretor Antunes Filho e acabou parando na tevê.

Pessoal

Helena tem certeza de que Manoel Carlos pensou em sua trajetória pessoal ao criar a história de Raquel. “Ele sempre pensa em algo que o ator possa emprestar ao personagem”, explica. Por isso, a atriz se baseou muito em seus primeiros tempos no Rio para expressar as reações da professora, com o cuidado de acrescentar a angústia da fuga de um relacionamento difícil e a conseqüente necessidade de esquecer o passado.

Estes foram, aliás, os únicos dados com que Helena se preocupou ao dar vida à personagem. Ela admite, com franqueza, que não fez nenhum tipo de trabalho de composição. “Não é um personagem de composição. Só tenho de pegar os dados que o próprio autor me dá e expressar isso”, ensina.

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