Em tempos de produções cinematográficas de grande qualidade tecnológica e o endeusamento da linguagem audiovisual, o cinema vive um momento de carência de reconfiguração. Como afirma o cineasta Sylvio Back, os filmes necessitam ser reinventados para voltar a estimular o imaginário do público. Imaginário que já esteve em alta, e especificamente hoje, vive um momento para lembrar de um dos maiores sucessos do cinema paranaense e nacional, Aleluia, Gretchen (1976).
Família de imigrantes alemães retratada no filme. |
Este mês o filme completa trinta anos de seu lançamento e para comemorar a data, Sylvio Back, Manoel Carlos Karam e Oscar Milton Volpini estarão hoje na Cinemateca de Curitiba promovendo a exibição do filme, às 19h. Antes eles autografam e lançam a nova edição do roteiro da obra publicada pela Imago, do Rio de Janeiro, em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba. Em 1976, Aleluia, Gretchen teve sua estréia nacional realizada no antigo Cine São João, em Curitiba. No mesmo ano também foi lançado o roteiro do filme em livro, assinado por Back, Manoel Carlos Karam e Oscar Milton Volpini.
O terceiro longa-metragem de Sylvio Back caracteriza uma trilogia não planejada de obras sobre o sul do Brasil, antes ele havia rodado Lance maior (1968) e A guerra dos pelados (1971). O filme retrata a saga de uma família de imigrantes alemães fugida do nazismo, que se radica no sul do Brasil às vésperas da II Guerra Mundial.
Manoel Carlos Karam foi colaborador do filme. |
A trama acompanha a história da família ao longo de quarenta anos. Os Kranz se envolvem com a Quinta Coluna e com membros da Ação Integralista Brasileira, ultranacionalistas nos moldes da doutrina nazista e fascista. A forte doutrina seguida por milhares de imigrantes e descendentes é focada desde o pré-guerra até o pós. Na década de 50 a família é visitada por ex-oficiais nazistas que transitavam pela região.
Lançado em plena ditadura militar, o filme causou grande comoção na época e até os dias atuais mostra como os pensamentos dos adeptos do nazismo sobreviveram durante a história. Aleluia, Gretchen faturou inúmeros prêmios de cinema e foi selecionado para os festivais de Berlim e Nannheim (Alemanha) e Chicago (EUA). ?Naquele tempo o filme chegou para o país com uma polifonia desconhecida, foi situado na época e até hoje mantém sua longevidade, o que até me espanta?, conta Back. Hoje a obra é encontrada em DVD.
Cineasta defende cinema com conteúdo
Oscar Milton Volpini. |
Segundo Sylvio Back, atualmente o cinema nacional sofre com o modelo estabelecido por ele próprio e que já teve seu tempo. De fato, este sistema de fazer cinema é o mesmo realizado no passado e segue padrões básicos criados com todos os méritos por Holywood. ?No mundo inteiro o cinema apresenta mudanças e é reinventado. Nós também temos essa obrigação, com o público e com a história?, sugere o cineasta, que também é poeta e escritor.
Uma das críticas de Back em relação a produção cinematográfica está relacionada com a proposta de muitos cineastas e a indústria como um todo. Para ele, hoje não existem inquietações ideológicas e a cultura estabelece uma ?santificação de personalidades?. O fato ocorre principalmente pela influência televisiva e a banalização da imagem.
Hoje uma das principais características do cinema é entreter, efeito alcançado por muitos anos, mas que já não rende as mesmas cifras milionárias, o público parece esperar por um novo sentido. ?Hoje as pessoas vêem dois ou três filmes seguidos porque não utilizam um tempo para pensar. Penso que após duas horas de exibição com referenciais e tudo o que um bom filme mostra, é o tempo para o público construir suas próprias idéias?, afirma Back.
Atualmente Sylvio Back está envolvido em dois novos projetos de longa-metragem. O primeiro se trata de um documentário a ser filmado entre o interior catarinense e a fronteira com o Paraná. Com o título O contestado, restos mortais, o filme relembra Guerra dos pelados, com a narração dos conflitos de grandes dimensões ocorridos na região e pouco observado pelo cinema. O outro é um roteiro de Back, um antigo projeto sobre a obra Angústia, de Graciliano Ramos. A história se passa na Maceió (AL) dos anos 30s.