Alana Moraes parecia caminhar para outras paragens. Sua história, que começa em Palmeira das Missões, no interior do Rio Grande do Sul, a talhava para ser uma cantora das tradições ao lado do pai músico e de outros compositores chamados pelos gaúchos de nativistas. Mas Alana driblou o destino e plasmou o sangue contaminado no berço por argentinos e uruguaios em forma de chacareras e chamamés com outras expressões para definir um rosto.

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Alana está em seu primeiro disco solo, que traz seu nome como título e uma foto de cores e movimento que apontam para o samba. Se fosse classificá-la, seria este o gênero que mais aparece. As onze músicas são novas, de soluções poéticas e harmônicas competentes, com produção criteriosa do violonista Gabriel Selvage.

Seus colaboradores parecem velhos na linguagem, mas não são. Angelo Franco, de Decisão de Brasileiro, é dos nativistas que faz aqui seu primeiro samba. Érlon Péricles, também gaúcho, fez para ela a latinizada Meio Muito Louca e a abaionada Não Quero Ser Só, além da hispânica Secreto, com participação no vocal do coautor, Daniel Drexler (mais novo do que seu irmão uruguaio mais famoso, Jorge Drexler).

O que mais se coloca em relevo, ainda que as composições tragam qualidade de sobra para um estreante, é a voz de Alana e a forma como ela a usa. Seu canto não tem medo e acredita no próprio timbre. É ousado e destemido, talvez algo que ela carregue da herança do rock pelo qual passou ao lado de bandas como a do guitarrista Wander Taffo (morto em 2008). Ela gosta dos improvisos nas gafieiras, dos diálogos com os sopros e não joga vibratos pela janela. Algo ali a faz pensar como um instrumentista dos bons, não apenas como uma cantora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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