Ah, essas listas…

Não adianta. A cada vez que surge uma lista do que se consideram as ?melhores músicas de todos os tempos?, levantam-se os críticos e os apaixonados, que não aceitam que determinadas canções não apareçam nas tais listas. Nunca chegaremos a uma relação completa, que não tenha discussões. Ainda mais na música brasileira, que é tão variada e complexa.

Mesmo assim, a revista BRAVO!, que tem a força de ser a mais importante da cultura brasileira (pelo menos do que chamamos de mainstream), teve a coragem de lançar uma revista com as cem ?canções essenciais da música brasileira?. Seria, em tese, uma visão diferente do que já foi feito. Mas mantém as polêmicas e não consegue escapar das críticas, apesar de ser a lista mais abrangente já feita. Abrangente até demais, pelo que a leitura sugere.

As dez mais importantes, aquelas que surgem como as principais na lista de BRAVO!, tem poucas novidades. Carinhoso (João de Barro / Pixinguinha) e Águas de Março (Tom Jobim) geralmente são as mais citadas, e ocupam os dois primeiros lugares. Chega de Saudade (Tom Jobim / Vinícius de Moraes), Tropicália (Caetano Veloso), Asa Branca (Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira) e Aquarela do Brasil (Ary Barroso) também são figuras fáceis em eleições como esta. Construção (Chico Buarque) é outra que sempre aparece, se bem que não com o destaque de agora – ficou na nona colocação.

Mas surpreendem três canções. Primeiro, João Valentão, de Dorival Caymmi. Esquecida hoje, a canção praieira é da produção mais lírica do compositor baiano, que tem outras obras-primas como A Jangada Voltou Só e Suíte dos Pescadores, ambas fora da lista. Mas João está em terceiro lugar na lista, no que transparece ser uma união entre homenagem a Caymmi e reverência à sua obra, que segue atual e moderna. Das obras praieiras de Dorival, João é a mais bela – e tem uma interpretação comovente de Caetano Veloso.

A segunda surpresa é Último Desejo, de Noel Rosa. Em sétimo lugar na relação, o samba também surge como elemento diferente dentro da lista – e parece também a união de homenagem e reverência à obra. Noel não está vivo, mas suas canções se tornaram representantes de toda uma geração de sambistas que está no limbo, gente como Geraldo Pereira, Wilson Batista e Ataulfo Alves, que muitos que dizem gostar de samba sequer conhecem.

A terceira é Detalhes, de Roberto e Erasmo Carlos, na décima colocação. Não é usual ter canções do Rei entre as mais importantes da música brasileira – principalmente na visão dos críticos. Alguns torcem o nariz para as músicas de Roberto, sem no entanto captar a influência delas na sociedade brasileira, principalmente para o que podemos chamar de ?brasileiro médio?. Se estamos falando em ?canções essenciais?, não há como não falar em Detalhes, que transformou o ídolo da Jovem Guarda em cantor mais popular da história.

Há mais surpresas na lista. Uma canção de Alvarenga e Ranchinho (Drama de Angélica, 51.º lugar), rocks bem posicionados (Exagerado, de Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni, em 38.º), A Volta do Boêmio (?Boemia / aqui me tens de regresso…?) na 26.ª posição e a feliz inclusão de A Mesma Rosa Amarela (Capiba / Carlos Pena Filho) na honrosa 17.ª colocação. Tão surpreendente quanto é a presença da recente Leve (Chico Buarque / Carlinhos Vergueiro), e já na 28.ª posição – é praticamente rotulá-la de ?clássico moderno?? da MPB.

Mas a relação de BRAVO! vai além. Tem sambas-enredo, polcas de Chiquinha Gonzaga, valsas de Ernesto Nazareth, chorinhos de Waldir Azevedo e sambas-canção de Maysa. E também tem canções inusitadas, como Nego Dito, de Itamar Assumpção, e Clara Crocodilo, do paranaense Arrigo Barnabé – dois expoentes da vanguarda dos anos 80. Para fechar, as duas últimas são desconhecidas do grande público: Cruzada (Tavinho Moura / Márcio Borges) e Cantiga de Amigo (Elomar).

Mas da lista da revista BRAVO! pode-se retirar uma conclusão: Tom Jobim e Chico Buarque são os dois compositores mais influentes da história. Cada um tem dez canções na lista (algumas, como Retrato em Branco e Preto e Eu Te Amo, em parceria), e Tom tem suas dez músicas entre as cinqüenta primeiras – Águas de Março, Chega de Saudade, Samba do Avião, Garota de Ipanema, Desafinado, Eu Te Amo, Retrato em Branco e Preto, Eu Sei que Vou Te Amar, Luíza e Insensatez. Sem querer (ou não), foi mais uma grande homenagem prestada ao Maestro Brasileiro.

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