Agitador da cúpula

Ator, produtor, compositor de marchinhas de Carnaval… Talvez a expressão que melhor defina Perfeito Fortuna seja "agitador cultural". Com mais de 30 anos de profissão, pela primeira vez o ator aceitou fazer uma novela. Convidado pela produção de Prova de Amor, da Record, ele topou dar vida ao bandido Miro. Curiosamente, Perfeito havia sido sondado pela equipe de Bang Bang, da Globo. Quis o destino, porém, que o convite da Globo não se concretizasse e ele acabasse na trama rival. "Eu falei que nunca havia feito televisão, que não servia para esse negócio. Depois, não sei o que aconteceu, eles não me falaram mais nada", diverte-se.

A hesitação de Perfeito em fazer televisão tem explicação. Sua carreira sempre esteve ligada ao teatro e à produção de shows. Na metade de década de 1970, integrou a trupe do Asdrúbal Trouxe o Trombone, que revelou artistas como Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé, Evandro Mesquita e Patrycia Travassos. Com a dissolução do grupo teatral, em 1982, Perfeito idealizou o Circo Voador, um dos mais importantes espaços culturais do Rio, e, mais tarde, consolidou a Fundição Progresso, outro centro cultural, que comanda até hoje. "Em 1982, o Circo e o rock formavam um movimento cultural poderoso. Não dava para seguir com o teatro", justifica.

P – Por que só agora você está fazendo sua primeira novela?

R – Minha carreira não foi para esse lado, foi para o lado da produção de shows. Não dava para eu fazer mais nada. Até que a Record me convidou, e eu aceitei, fazer um bandido que ficaria só dois dias na trama. Mas tinha uma passagem em que ele falava: "eu sou da cúpula!". E eu fiz um gesto com a mão sobre a cabeça. No dia seguinte, todos brincaram: "olha o cara da cúpula!". Aí pegou. E o autor, Tiago Santiago, perguntou se poderia escrever mais para o personagem e eu topei. Achei que seria um bicho de-sete-cabeças, mas não foi nada disso.

P – Já está à vontade no formato da tevê?

R – A televisão não é meu ambiente. Estou lá só "tirando uma onda". Mas estou gostando. E o pessoal lá gostou de mim, os técnicos vão assistir quando eu estou gravando. Eu acho que faço diferente do que eles estão acostumados, com um tom de voz mais alto. Como não tenho um compromisso com aquele tipo de atuação, faço do meu jeito. E como o personagem é um bandido, tudo bem. O bandido, assim como o maluco, pode tudo.

P – Você pensou nesse tom para o personagem desde o início?

R – Não. A chave do negócio foi a palavra "cúpula". Quando eu falei: "eu sou da cúpula!", aí "baixou" o personagem. Aí deu sentido às palavras. E o autor, Tiago Santiago, também sentiu isso. Por isso que eu digo que há uma comunicação boa lá. Depois, ele já incluiu no texto uma fala do personagem dizendo que é presidente das favelas… E o personagem pode também puxar toda uma discussão em torno desse assunto, da relação da polícia com os bandidos, do poder paralelo e dessa guerra que não interessa a ninguém que acabe. É um assunto muito atual.

P – Está gostando de trabalhar na tevê? Aceitaria outros convites?

R – Estou. Ninguém me procurou. E eu não freqüento esse ambiente. As pessoas que são desse ambiente estão sempre juntas, em festas, convivem. Eu não convivo. Eu convivo com pessoas ligadas à música, a shows, à educação… Então, se rolar outro convite, eu topo. Desde que me sobre tempo. Não dá para isso me consumir muito tempo. Não posso. Para mim, gravar um dia por semana é razoável. Tenho outros assuntos importantes para cuidar…

P – Dá para conciliar o tempo do produtor com o de ator de tevê?

R – Com essa história de gravar apenas uma vez por semana, está tranqüilo. Eles me ligam no sábado, por exemplo, e avisam que eu tenho gravação na quarta-feira. É tranqüilo, eu já me preparo para isso. Até porque, quem faz o meu horário aqui na Fundação Progresso sou eu. Também aqui "eu sou da cúpula!". Mas é uma cúpula que eu construí, ninguém me deu isso aqui. Eu que inventei esse negócio.

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