O número 13, ligado à simbologia da transformação, marca as comemorações de aniversário do Grupo Cultural Afro Reggae, que vive um momento de destaque. Os 13 anos da instituição estão sendo celebrados no Rio de Janeiro, durante 13 dias. Na última segunda-feira, dia 13 de fevereiro, em meio à performances e muita música, foram abertas oficialmente as comemorações com a exposição multimídia Afro Reggae 13 Anos, instalada no Centro Cultural Telemar, e o lançamento da segunda edição do livro Da favela para o mundo, de José Júnior, que autografou exemplares na ocasião.
A mostra, que tem curadoria do designer e cenógrafo Gringo Cardia, apresenta várias fotos dos doze subgrupos do Afro Reggae, sob o olhar de doze fotógrafos profissionais. Assim como o espaço Telemar, no bairro do Flamengo, reúne arte e tecnologia ao longo de sete andares, a noite teve um clima de mistura cênica. Enquanto o DJ Tekko Rastafari revezava as carrapetas com Anderson Sá, vocalista da banda AfroReggae, a Trupe de Teatro, um dos subgrupos do Afro Reagge, apresentava performances entremeadas pelo som do Afro Lata e da Oficina de Percussão do Complexo do Alemão. Do alto das escadas desciam, nos tecidos, os membros do Afro Circo e Levantando a Lona, que também fizeram acrobacias. A arte corria por todos os lados. Fotógrafos do porte de Murillo Meirelles, Evandro Teixeira, Walter Firmo e dom João de Orleans e Bragança foram os que clicaram as imagens inéditas dos subgrupos. Regina Casé, Estevão Ciavatta, Hermano Vianna, Deborah Colker, André Skaf, Hélio de La Peña e Geraldo Carneiro também prestigiaram o evento.
História
O Grupo Cultural Afro Reggae (GCAR) é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que surgiu em 1993 com o objetivo de oferecer uma formação cultural e artística para jovens moradores de favelas, de modo que eles tivessem meios de construir suas cidadanias e com isso pudessem escapar do caminho do narcotráfico e do subemprego, transformando-se também em exemplo para outros jovens. Para transformar essa ideologia em prática, o Afro Reggae desenvolve projetos em várias comunidades do Rio de Janeiro, como Cantagalo, Parada de Lucas e Vigário Geral. Através da arte e da cultura, sempre com um acompanhamento social, o GCAR tem conseguido mudar a realidade das crianças, jovens e adultos assistidos pela instituição. No mesmo ano de 1993, na favela de Vigário Geral, foi inaugurado o primeiro Núcleo Comunitário de Cultura, iniciando assim o desenvolvimento dos projetos sociais. Em pouco tempo, esse núcleo se consolidou a partir das primeiras oficinas – que foram dança, percussão, reciclagem de lixo, futebol e capoeira – e preparou o terreno para novas empreitadas. Em permanente crescimento e amadurecimento, a organização é hoje dividida em subgrupos que nasceram dessas oficinas montadas nas favelas. São elas: banda AfroReggae, Makala Música e Dança, Trupe de Teatro, Banda Afro Lata, Afro Mangue, Tribo Negra, Kitôto, Afro Samba, Akoní, Banda de Rock de Meninas-Párvate, Trupe do Levantando a Lona e Trupe do Afro Circo.
Prêmio Orilaxé
O Grupo Cultural Afro Reggae promoveu, na última terça-feira, dia 14, no Teatro Sesc Ginástico, centro do Rio, a 7.ª edição do Prêmio Orilaxé. Na linguagem dos povos iorubás, nossos ancestrais africanos, orilaxé quer dizer: a cabeça tem o poder de realização. O prêmio contempla pessoas ou grupos distribuídos que apóiam a causa do Afro Reggae. Os apresentadores da noite, Fernanda Abreu e Marcelo RedBull, logo chamaram ao palco a Big Band, grupo formado por integrantes de diversos subgrupos do Afro Reggae. Com repertório eclético, a mistura de músicos empolgou a platéia, que fez coro cantando do funk às melodias pop. Primeiro a receber seu prêmio, o jornalista Manoel Soares o dedicou à sua comunidade, no Rio Grande do Sul, e lembrou da luta diária para se tornar um profissional reconhecido. "Aprendi com o Afro Reggae a destacar e estimular um grupo de pessoas que estão em situação delicada. Decidi ser jornalista para divulgar as soluções e não só os problemas", diz Manoel, que afirmou que muitos veículos de comunicação divulgam somente o que há de ruim nas favelas. Nascido na periferia e filho de uma faxineira, hoje ele é um renomado jornalista no sul e destaca em suas matérias os pontos positivos dentro das comunidades. Vanessa da Mata levou o prêmio de melhor cantora, o primeiro de sua carreira. Emocionada, agradeceu a seu avô pela ascendência negra. Ovacionada pelo público, ela não teve como escapar dos pedidos e cantou um trecho de Eu sou neguinha, de Caetano Veloso. Matt Mochary e Jeff Zimbalist, diretores do documentário Favela Rising (que estava na lista dos indicados para concorrer ao Oscar 2006) e vencedores como destaque do ano, não puderam comparecer ao Brasil para receber o prêmio. Anderson Sá, vocalista da banda AfroReggae e personagem central do filme, foi o representante da dupla. Entre um prêmio e outro, o Afro Lata sacudia a platéia mostrando a ginga e talento dos meninos de Vigário Geral. A Big Band voltou aos palcos após a entrega dos prêmios, seguidos da Makala Música e Dança. Os bailarinos do grupo seguraram a platéia com a coreografia de Betho Pacheco, coordenador do grupo. Encerrando a festa, o clipe da música Quero só você, da banda AfroReggae, que, por sinal, abrirá o megasshow dos Rolling Stones hoje na praia de Copacabana.