Afrika Bambaataa reinventou o ritmo de novo. Depois de organizar o hip-hop como uma cultura, nos anos 70, e inventar o electrofunk, nos anos 80 (misturando a melodia de Trans Europe Express, do Kraftwerk, com o ritmo de Numbers), ele volta à carga com um disco que se apropria de novos elementos do tecnopop, do funk, do jazz e mesmo de novos gêneros, como o techno, para gestar outra mistura dançante.
Dark Matter: Moving at the Speed of Light (Tommy Boy Records/ST2 Music no Brasil) é o tal disco. Abre já com um manifesto que se contrapõe à hegemonia do drum?n?bass, My Body Got the Vibe. A segunda faixa, Metal, vai mais longe com o auxílio de um velho ídolo do pop inglês, Gary Numan (que ficou famoso com a canção Cars, em 1979).
“Nem tudo na vida é matar e bater, ou ficar gritando nomes de mulheres. Deve haver um equilíbrio”, diz Bambaataa, cujo verdadeiro nome é Kevin Donovan, nascido em South Bronx, NY, em 1960. “Há outros tipos de hip-hop, uma música que possui alma”, ele alfineta, certamente se dirigindo aos grandes milionários do gênero, em geral adeptos do reacionário gangsta rap.
“O hip-hop teve o mérito de aproximar mais pessoas de diferentes raças do que todos os políticos juntos do planeta”, disse Bambaataa, que teme que o gênero agora esteja abrigando um “apartheid” cultural. Apesar de seu reconhecido pioneirismo, Bambaataa praticamente continua sendo um músico independente, movendo-se sem pressa e com tranqüilidade pelo show biz, a léguas de distância do hip-hop milionário de Eminem ou 50 Cent.
A “ideologia” da Zulu Nation de Bambaataa continua firme na ponta de sua produção. Dark Matter fecha com um arrebatador Zulu Chant n.º 5. A Universal Zulu Nation de Bambaataa (que arrebatou aqui no Brasil figuras de proa como Marcelo D2, Black Alien e B-Negão) foi inspirada por um filme chamado Zulu, de 1960, que mostrava tribos africanas lutando contra o exército britânico.
Bambaataa acaba de estrelar um documentário que estreou há alguns dias em Nova York, 5 Sides of a Coin, de Paul Kell, que mostra o nascimento do gênero no Bronx e a diáspora do movimento hip-hop ao redor do mundo. Ele surge dando depoimentos da geração pré-gangsta, ao lado de Kool Herc e Grandmaster Flash ? que alguns chamam de “a santíssima trindade” do hip-hop.