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África de todos os blues

Amadou e Mariam falam uma espécie de idioma oficial da Mimo, ou os vários idiomas africanos que chegaram muitas vezes ao Brasil pela primeira vez por meio do festival. Esse casal do Mali faz um blues de estrutura mais básica do que aquele desenvolvido pelos negros no Sul dos Estados Unidos. Uma sequência de dois acordes, sem refrão nem solos, que giram por um tempo longo o bastante para colocar parte das plateias em transe. Vê-los em ação é também um estudo histórico, uma revelação cultural que reescreve a história do blues.

Amadou e Mariam enviaram suas respostas ao jornal O Estado de S. Paulo . Eles chegam a São Paulo com um show ativado pelo álbum mais recente, La Confusion, que fala, segundo Amadou, “da confusão que vivemos no Mali, sobre nossa comunidade e nossa situação social”. “Mas, ao mesmo tempo, as coisas que conversamos acontecem em todo o mundo”, diz. Sobre a característica dos guitarristas de blues africanos, que não gostam de fazer muitos solos, ele apenas diz: “Bem, eu posso falar por mim. Gosto de adicionar alguns solos no show ao vivo. Faz parte da vibração e da conexão que tenho no momento”.

Ele conta que, no último verão, a dupla fez uma turnê com os amigos norte-americanos do grupo Blind Boys, do Alabama, uma série de 15 shows consecutivos. “É incrível estar na frente de grandes multidões, dá para sentir a energia.” Se ele ouve blues americano? “Ouço muito. E fui convidado, há uns anos, a participar do último lançamento do falecido músico JJ Cale (autor de Cocaine), com Eric Clapton e BB King.”

A outra atração de sábado, Noura Mint Seymali, faz um blues com outras características, mas também sobre as mesmas escalas pentatônicas africanas e o sentido circular dos malinenses. “O blues nasceu na África, isso está na história”, ela disse, em recente passagem pela Mimo de Amarante.

Egberto Gismonti. Na outra ponta da programação, Egberto falou por e-mail com a reportagem sobre o ponto de encontro de sua música, considerada sofisticada e estudada pela academia, e a de João do Pife e seu grupo, intuitiva desde a fabricação dos instrumentos de sopro feitos pelo próprio João. O encontro será tema do documentário O Avião Tá de Parabéns, que será exibido também na Mimo:

“Somos músicos do interior, com formações diferentes mas com a admiração absoluta pelo Brasil dos brasileiros que criam em paralelo às dificuldades que nos são impostas, a esperança de vida, o desejo de viver e o amor, que no final das contas é a estaca sólida que temos. As nossas músicas se encontram também na amizade que os brasileiros do interior insistem em alimentar com os sorrisos, com os causos, com os convites para dividir mesas e ideias.”

Ele é um dos artistas que mais se apresentou no evento. Desta vez, aparece quase que como um homenageado. Fará primeiro um show na sexta, 22, no Mosteiro de São Bento, e depois estará, no domingo, 24, como tema do documentário. “O que me levou a participar tantas vezes do Mimo, além da ideia e do exercício de liberdade de expressão, foi minha querida amiga Lu Araújo”.

E a definição de João do Pife, por Egberto? Sua resposta tem duas partes. “Resposta fácil se considerarmos João do Pife nome nomeado e doado pelo povo de Recife. Neste caso, o homem com seu nome já seria autoexplicativo. Resposta difícil se considerarmos que neste país miscigenado, ainda que preconceituoso, existe um homem que tem sua história admirada e é respeitado por todos que gostam do Brasil, das misturas, das raças indefinidas que nos definem, e sabem que a evolução nossa é e continuará sendo feita através de nós todos, sobretudo dos mais competentes da matéria que dominam e/ou mesmo a inventaram. Tenho pelo João de Pife um respeito imenso.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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