Aerosmith faz show vigoroso e cheio de clássicos em SP

Em pouco mais de um ano, muito mudou para o Aerosmith. A banda em frangalhos que passou pelo Palestra Itália, em maio do ano passado, deu lugar a um quinteto de sessentões com o vigor dos velhos tempos. O grupo era espécie de quebra-cabeças confuso, com cada integrante seguindo para um lado. Steven Tyler e Joe Perry, voz e guitarra da banda, ocupavam lados opostos. O vocalista mergulhava nos vícios de drogas e álcool, enquanto Perry já dizia que iria abrir uma audição e que o Aerosmith seguiria sem Tyler. Enquanto isso, o baixista Tom Hamilton, aquele creditado como o apaziguador das picuinhas entre Tyler e Perry, uma espécie de Mick Jagger e Keith Richards, lutava contra um câncer na garganta.

Com esse plano de fundo, aquele o show foi protocolar. Após a reabilitação de Tyler – ele jura ter escapado do abismo dos abusos, e de sua divertidíssima participação como jurado do programa “American Idol” -, e da recuperação de Hamilton, o grupo voltou com tudo. A turnê que passou por São Paulo na chuvosa noite de domingo ganhou o nome de “Back On The Road”, ou de volta à estrada. Para deixar o passado conflituoso para trás, a ideia é presentear os fãs com apresentações relembrando os primeiros 20 anos de carreira. Como se Tyler, Perry, Hamilton, Brad Whitford (guitarra base) e Joey Kramer (bateria) fossem garotões de novo. Não é para tanto, eles viveram todos os extremos do lema “sexo, drogas e rock’n’roll” e sobreviveram juntos para contar os 41 anos de história.

O Aerosmith é uma banda de arena – e, veja bem, o grupo não possui outra opção, já que o último disco de inéditas a banda é “Just Push Play”, de 2001. E a apresentação de anteontem serviu para reafirmar isso. Às 20h15, uma sirene ecoou pela Arena Anhembi, um (brega) anúncio de que o show iria iniciar com um atraso quase irrelevante. “São Paulo!”, gritou Tyler, do backstage, outra manobra também manjada, mas que foi efusivamente aplaudida pelos cerca de 35 mil presentes.

Tyler e Perry surgem juntos do fundo do palco, enquanto os outros integrantes aparecem pelos lados. Tyler veste um sobretudo dourado – largado já na terceira música do show -, chapéu e óculos escuros, para disfarçar o olho roxo ganho após uma queda no banheiro do hotel, no Paraguai. Perry, também espalhafatoso, usa um blazer roxo.

A banda atacou logo com um trio setentista: “Draw the Line” (disco homônimo, de 1977), “Same Old Song and Dance” (“Get Your Wings”, 1974) e “Mama Kin” (“Aerosmith”, 1973). Perry e Tyler parecem dividir as atenções e o setlist da apresentação. Enquanto a guitarra é exaltada no híbrido do gênero do Delta do Mississipi com hard rock dos anos 70, as baladas são a chance de Tyler mostrar que sua voz, apesar dos 63 anos, é poderosa e ainda consegue alcançar os altos tons dos velhos tempos. Quase todos os hits açucarados foram lembrados (“Amazing”, “What It Takes”, “I Don’t Want To Miss a Thing” e “Cryin'”), somente “Crazy” e “Jaded”, ficaram fora. Um ou outro fã mais jovem reclamou, mas a grande maioria parecia delirar com a apresentação vigorosa.

Nem mesmo a chuva, uma garoa fina irritante, que caiu insistentemente durante todo o show, atrapalhou a performance. Usaram e abusaram a plataforma de 10 metros que avançava no meio do público. O Aerosmith ainda executou cinco músicas no bis, num show de quase duas horas, finalizado com a revigorante “Train Kept A-Rollin'”, cover de “Tiny Bradshaw”, gravada em 1974. A única diferença é que a banda não tem mais vinte e poucos anos, mas eles gostam de se imaginar nessa viagem à Terra do Nunca. Como os garotos perdidos. Só que aos 60. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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