Adriana Esteves tem momentos de muita ternura em Benzinho, o belo longa de Gustavo Pizzi, coescrito pelo diretor com sua ex-mulher e atriz permanente, Karine Teles. Na entrevista que deu ao jornal O Estado de S. Paulo, Karine disse que criou a personagem da irmã para poder abordar a violência doméstica. Adriana, no filme, apanha do marido, César Charlone. E, mesmo assim, num momento de fraqueza dele, a mulher agredida, humilhada, estende a mão para seu agressor. Você não espera esse tipo de reação numa personagem interpretada pela atriz que, na TV, já foi Carminha e continua na senda da maldade na atual novela de João Emanuel Carneiro que ocupa o horário das 9, na Globo, O Segundo Sol. Laureta é outra peste que Adriana faz com desenvoltura.
Como ela consegue? A entrevista, por telefone, tem de ser feita às 9 da manhã – em ponto! -, porque às 9h30 a van da produção passa na casa de Adriana para levá-la ao Projac, onde ficará gravando o dia todo. Tem sido sua rotina há meses, e ela ainda tem de encaixar os cuidados com os filhos, o marido, o também ator Vladimir Brichta. “Gosto muito do que faço, mas minha prioridade sempre vão ser eles. Sou daquelas mulheres que nascem para ser mães. Se não fosse mãe biológica, teria filhos adotivos, mas seria mãe de qualquer jeito.” Essa maneira de falar dos filhos talvez já dê uma pista sobre essa notória ‘maldade’ da nossa Bette Davis.
Em Hollywood, nos anos 1930 aos 60, Bette criou sua persona na tela sempre associada aos papéis de mulheres más. Por isso mesmo foi com assombro que se descobriu que justamente em A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz, a ‘pobre’ Bette era vítima das maquinações de uma pior que ela, a Eva de Anne Baxter. E Adriana? Ela ri, uma risada gostosa. “Sou todas elas, a boazinha e a malvada. Tenho várias malucas dentro de mim. Todo mundo tem. Ninguém é completamente bom, nem completamente mau.
Olha a Laureta, apaixonada por aquele garoto, como ela se adoça com ele. Acho, sinceramente, que todos temos essas áreas sombrias, essas revoltas que alguns ousam externar. Sou uma escrava do texto, ele me fornece sempre a inspiração, seja o de Karine (Teles) ou o do João Emanuel. Como atriz, tenho de entender minhas personagens e entregá-las como são, sem julgamentos, para o público. Adoro fazer isso, mas, claro, não faço sozinha. Tenho tido o privilégio de encontros com pessoas que foram abrindo minha cabeça.”
O próprio João Emmanuel, que escreveu Carminha (Avenida Brasil) e agora Laureta, provoca, segundo a atriz. “Difícil, nessa novela, é achar o bonzinho. Tá todo mundo na vibe do mal. Como retrato do Brasil, é bem pesado”, ela avalia. Antes que fale de Amir Haddad, seu guru, pegue o Octávio Müeller, que faz o marido de Karine em Benzinho. “O Octávio é um amigo querido, e foi ele que fez a ponte com a Karine e o Gustavo (diretor). Falou que era um papel pequeno, mas e daí? Eu já havia visto o Riscado (longa anterior de Pizzi e Karine, quando ainda formavam um casal). Eram pessoas que eu já queria encontrar, com quem queria trabalhar. E quanto ao tamanho do papel… Em Mundo Cão, do Marcos Jorge, minha personagem morre e a trama continua andando. Mesmo morta, ela segue importante. Não importa o tamanho do papel, e sim a possibilidade que ele oferece.”
O repórter não se furta a lembrar o começo de Adriana, quando, na TV e no cinema, ela fazia personagens ingênuas, ou que assim pareciam. Nada a predispunha a uma grande mudança, mas ela veio. “É o que estou dizendo. Foram os encontros, as pessoas que me influenciaram. O Amir (Haddad), no teatro, foi um farol.” Com ele – e Marcos Palmeira -, Adriana fez O Auto de Angicos, contando a história de Virgolino Ferreira e Maria de Déa, que se tornaram conhecidos no cangaço com Lampião e Maria Bonita. “Naquele momento (2007), eu já estava vivendo um momento de inquietação profissional. É uma coisa que tenho até hoje, e o que o Vladimir (o marido) também entende e entende. A gente se apoia muito. Não é querer ser o melhor para receber o elogio, o prêmio. É uma coisa mais profunda.”
E ela prossegue: “O Amir tem uma vida inteira de teatro. Faz uma leitura enriquecedora dos clássicos, desprovida de vaidade. E ele busca, no contato com o público, alguma coisa que complemente. É um olhar muito generoso para o outro, uma tentativa de entendimento do todo. Não é só o eu, o outro. É o ‘nós’. Acho isso tão bacana, tão profundo.” Essas parcerias iluminadas prosseguem. “Foi muito bom trabalhar com a Amora (Mautner), que fez aquele trabalho lindo em Avenida Brasil. Fizemos uma série que eu acho que vai causar. Assédio deve ir ao ar ainda este ano.” O texto de Maria Camargo baseia-se no livro A Clínica – A Farsa e os Crimes, de Roger Abdelmassih, de Vicente Vilardaga, sobre o médico especializado em reprodução humana e que foi condenado a quase 300 anos de cadeia por haver abusado sexualmente de suas pacientes. O tema é fortíssimo, ainda mais nessa fase de empoderamento feminino.
E aí se chega a O Segundo Sol, que tem direção geral de Denis Carvalho. “Com o Denis eu fiz a minissérie sobre Dalva (de Oliveira) e o marido compositor, o Herivelto (Martins). Era um casal complicado, mas vejam a obra deles. Viviam num inferno, mas criaram coisas, músicas que permanecem e serão eternas.” De novo, os temas do bem e do mal – do mal que as pessoas conseguem se fazer. Isso, claro, remete a uma questão que pode ser crucial para quem tem seguido a trama das 9. Está chegando a hora, o 100.º capítulo da novela de João Emanuel Carneiro. Quem segue o autor sabe que ele adora as grandes reviravoltas, que mudam tudo. Foi assim em A Favorita, em Avenida Brasil. Será de novo em O Segundo Sol. Todo mundo já sabe que muita coisa vai mudar no capítulo de número 100. Revelações…
Adriana já começou a gravar essas cenas? O que vai ocorrer com Laurita? Vai virar vítima? “Tenho lido e ouvido todo tipo de especulação, mas por enquanto é só isso. Especulação. Na emissora (Globo), esse capítulo 100, se já está escrito, é guardado a sete chaves. Sigilo absoluto.” Ah, é? Na internet, o sigilo já vazou em sucessivas publicações sobre que seria o tal capítulo. Serão sete reviravoltas e no que se refere a Laureta… 1) Ela descobre que Karola mandou matar Remy; e 2) Laureta arma com Karola para que Luzia seja a principal suspeita. Adriana que se prepare. Laureta ainda vai aprontar muito.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.