Adivinhe quem não vem para gravar

A rotina de trabalho de um autor de novela está sujeita a muitos imprevistos. Quando ele menos espera, um ator adoece, uma atriz engravida e, na pior das hipóteses, um terceiro vem a falecer. Diante desses e outros contratempos, eles precisam usar de muita criatividade para contornar o problema, sem que o público se dê conta do sumiço repentino do personagem. Na maioria das vezes, a saída mais freqüente é a do aeroporto. Mas há também outras soluções, como simplesmente substituir um ator pelo outro. Parece improvável, mas acontece…

Recentemente, tanto Antônio Calmon quanto Walter Negrão enfrentaram "perrengues" parecidos. "Mesmo que seja uma simples gripe, imprevistos sempre atrapalham. Mas o autor precisa usar o problema a favor da trama, sem que o público sinta demais a ausência do personagem", recomenda Negrão. Em Começar de Novo, de Calmon, Vladimir Brichta teve hepatite e Carlos Vereza, pneumonia. Já em Como Uma Onda, de Negrão, Maitê Piragibe e Nill Marcondes também baixaram na enfermaria. Conclusão: os dois tiveram de reescrever algumas cenas e promover ajustes no roteiro. "Jogo de cintura e improviso são fundamentais. Duro mesmo é quando alguém falece", pondera Calmon.

Mas para tudo dá-se um jeito. O próprio Negrão promoveu um inusitado troca-troca em O Primeiro Amor, de 1972. Faltando 28 capítulos para o desfecho da novela, Sérgio Cardoso faleceu, aos 47 anos, de enfarto. Seu personagem, então, passou a ser interpretado por Leonardo Villar.

Glória Perez teve mais sorte em O Clone. Quando Débora Falabella precisou se ausentar por conta de uma meningite, Jayme Monjardim recorreu a uma solução bastante familiar para o problema. Convidou Cynthia Falabella, oito anos mais velha, para substituir a irmã. "Procurei passar a mão no cabelo de um jeito nervoso, como ela fazia, e olhar para tudo de um modo desconfiado. Acho que dei conta do recado", avalia Cynthia. Tanto deu que, atualmente, figura no elenco de América, da mesma Glória Perez, no papel de Cidinha.

Por essas e outras, manter uma boa frente de capítulos é fundamental. Quem garante é Aguinaldo Silva. Em Senhora do Destino, ele enfrentou inúmeros percalços como a morte de Miriam Pires, que fazia a cozinheira Clementina, e o problema de saúde de Raul Cortez, o Barão de Bonsucesso. "Houve momentos em que foi difícil manter o cronograma. Mas só consegui resolver os imprevistos de maneira menos traumática porque tinha uma frente grande", gaba-se.

Mas não são todos os autores que lidam bem com eventuais perdas no elenco. A morte de Jardel Filho durante Sol de Verão, por exemplo, abalou tanto o autor Manoel Carlos que, impossibilitado de concluir sua tarefa, foi substituído por Lauro César Muniz. A conclusão da novela foi bastante tumultuada. Os textos chegavam em cima da hora e as cenas eram gravadas horas antes de serem exibidas. "Apesar das dificuldades, a audiência cresceu no último mês", consola-se Lauro, que escreveu os 17 capítulos finais.

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