Adeus a Vilgot, cineasta do erotismo

Foto: Divulgação
Vilgot Sjoman, cineasta do erotismo no cinema.

Bastaram quatro ou cinco filmes, realizados entre 1962 e 68, para colocar o nome de Vilgot Sjoman entre os cineastas que revolucionaram o erotismo no cinema, levando o sexo explícito para as salas de arte. Neste sentido, o antigo parceiro de Ingmar Bergman antecipou os grandes impactos de Bernardo Bertolucci (Último tango em Paris) e Nagisa Oshima (Império dos sentidos) nos anos 1970s. Mas Sjoman não foi propriamente um discípulo de Bergman, embora tenha sido definido como tal nos telegramas com que as agências internacionais de notícias anunciaram hoje sua morte, em Estocolmo.

Sjoman, de 81 anos, morreu de derrame. Foi amigo de Bergman na juventude e, juntos, visitaram Paris, numa experiência que foi decisiva para ambos. Bergman regressou à Suécia convencido de que queria ser diretor; Sjoman decidiu-se pela escrita. Escreveu uma peça que transformou em romance, depois outro romance. Só no começo dos anos 1960s, resolveu que queria tentar o cinema e recebeu grande auxílio de Bergman. O grande diretor convidou-o para acompanhar todas as etapas de Os comungantes, desde o roteiro e a realização até a montagem e o lançamento, numa convivência de mais de seis meses que preparou Sjoman para a arte de direção.

O primeiro longa, de 1962, foi A amante sueca. Seguiram-se 491, do romance de Lars Gorling, em 63, e Syskombaad, de 65, que o diretor dedicou ao dramaturgo elisabetano John Ford, cuja peça Pena que ela seja uma P…? lhe serviu como inspiração. O filme chamou-se Minha irmã, meu amor nos cinemas brasileiros e consolidou a atração de Sjoman pelo sexo e pelo escândalo. Em 491, ele filmou seus atores (Lars Lind e Lena Nyman) em cenas de sexo que se tornaram explícitas, em Syskombaad abordou o incesto com uma ousadia que mesmo os contestadores anos 1960s tiveram dificuldade para deglutir.

John Ford, revisto por Sjoman, transformou-se num espetáculo de grande refinamento plástico, transpondo a peça famosa para o fim do século 18. E aí vieram as duas partes de Sou curiosa, amarelo e azul (1967-68), que tanta polêmica provocaram em todo o mundo, levando o diretor a ser julgado nos EUA por obscenidade e pornografia. Em 2003, assinou seu último longa, Nobel, sobre o inventor que ligou seu nome (e fortuna) ao importante prêmio. Talvez seja errado dizer que Sjoman foi discípulo de Bergman, mas como escritor e diretor ele trabalhou sobre muitos temas que sempre atraíram Bergman – conflitos existenciais, sexualidade exacerbada, indagações filosóficas. Nenhum crítico que se preze vai dizer que ele foi tão grande quanto Bergman, mas Sjoman teve sua importância no cinema sueco e mundial.

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