Adam Lambert entrou numa espécie de lugar sagrado: o Queen. Um grande desafio. Afinal, para os fãs da banda inglesa, não há substitutos para o posto de seu emblemático líder e vocalista Freddie Mercury, morto em 1991. E, no palco, Lambert, de fato, não se coloca na posição de ‘o novo cantor do Queen’, como se viu no show do projeto Queen + Adam Lambert, apresentado para um público lotado no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, na noite de quarta-feira, 16, antes do esperado concerto no Rock in Rio, na sexta, 18 – o retorno ao festival onde, há 30 anos, Love of My Life foi acompanhado por um grande coro na plateia, puxado por Freddie Mercury.
Destaque do programa American Idol, de 2009, Lambert não tenta ser um imitador de Freddie, o que é um ponto a seu favor. Com os próprios recursos vocais – com direito a sustentar longos agudos -, o cantor americano impõe seu estilo, sua maneira de interpretar aquelas músicas tão incorporadas à imagem do antigo vocalista. Mas a alma do Queen, hoje, está polarizada nas figuras do guitarrista Brian May e do baterista Roger Taylor, ambos também vocalistas, companheiros de Freddie Mercury na formação clássica. Partiu deles o convite a Lambert, após serem alertados sobre o bom desempenho – e a popularidade – do cantor americano ao interpretar canções do Queen. Ele foi o eleito da vez.
Fazendo a linha rocker com afetação, uma mistura de Elvis Presley dos anos 1950 e 60 com George Michael dos anos 80, Adam Lambert subiu ao palco com o Queen pontualmente às 22h, cantando One Vision. Precisão britânica. A acústica do Ginásio não favoreceu quem estava mais longe do palco, onde a voz de Lambert era sobreposta pelos instrumentos dos músicos da banda. Também ouvia-se com dificuldade o que eles diziam ao microfone, quando Lambert ou mesmo Brian falava com o público. Lambert foi bem aceito pela plateia e continuou o repertório com outros sucessos como Another One Bites the Dust, Killer Queen, Don’t Stop Me Now, I Want to Break Free e Somebody to Love. Freddie Mercury estava presente, ao ser evocado nas palavras de Lambert, nas imagens dos telões e nos momentos de emoção de Brian.
“Boa noite, tudo bem? É ótimo estar de volta. Vocês querem cantar comigo?”, arriscou, em português, o guitarrista. Para depois, sentenciar, em inglês. “Essa música é de vocês”, referindo-se à catártica apresentação no Rock in Rio em 1985. Sem Lambert no palco, ele cantou Love of My Life. E, guardada as devidas proporções, a catarse se repetiu no Ginásio. Brian e Roger voltaram ao passado em canções como These Are the Days of Our Lives, em que os telões traziam imagens do grupo no auge da juventude e da fama. E os dois jogaram os holofotes sob si mesmos, seja como vocalistas seja nos solos em seus respectivos instrumentos, mostrando que, afinal de contas, os protagonistas e donos da história eram eles.
Houve outros momentos em coro com o público, como em Radio Ga Ga, Crazy Little Thing Called Love, Who Wants to Live Forever e, no bis, o ‘hino’ We Will Rock You. A disposição do palco permitia que eles se movimentassem por várias partes, aproximando-se do público. Lambert surpreendeu cantando um sucesso seu, Ghost Town. O hit We Are the Champions selou 2h20 de apresentação. E, apesar do tom saudosista, o que prevaleceu no show foi a força da obra do Queen.