Marcos Lazarini assumiu não a simples "tradução", mas uma verdadeira "conversão" de Os ricos também choram. De todas as novelas já produzidas pelo SBT a partir do contrato com a Televisa, coube ao autor a função de tornar a trama mexicana o mais próximo possível de uma novela brasileira. A ponto de Lazarini acrescentar novos personagens, além de reambientar a história na realidade brasileira. Mais precisamente, no interior paulista, tendo como pano de fundo a política nacional da década de 1930. "Pode-se dizer que 60% dos personagens são novos. Os centrais estão todos lá, mas, é claro, na minha estrutura. Meu interesse foi tornar a novela um pouco minha" assegura.
Entre as diferenças significativas da nova versão, Marcos Lazarini gosta de destacar a criação do personagem Bernardo, de Márcio Kieling, um dos vértices do triângulo amoroso que envolve Mariana e Alberto, feitos por Taís Fersoza e Felipe Folgosi. O autor ainda acrescenta que Bernardo serve de contraponto ao irmão "bon-vivant": é trabalhador e idealista. Outra criação de Lazarini é o núcleo da viúva Arabela, vivida por Françoise Forton, e suas respectivas filhas. O autor lembra que se inspirou na peça A Casa de Bernardo Alba, do espanhol Federico García Lorca. "Minha maior dificuldade foi lidar com o passado de uma novela tão importante", avalia.
P – Passado um mês desde a estréia, com audiência média de 8 pontos, qual o balanço dá para fazer da novela?
R – A produção tem correspondido às expectativas. Elenco, direção e produção estão muito bem-afinados. O resultado está sendo uma novela com tom bastante agradável. A trama central deverá tornar-se ainda mais forte e emocionante. Acredito que estamos com uma história muito boa de contar, com personagens bem-construídos pelo elenco, que mescla intérpretes experientes com gente nova e com talento de sobra.
P – Das muitas liberdades que você tomou, qual é a que está criando mais empatia com o público?
R – É um pouco difícil de avaliar. Mas sinto que transformar o eixo central da novela num triângulo humanizado e, até certo ponto, trágico, vem catalisando nosso público. Além disso, o núcleo da viúva Arabela, de Françoise Forton, também vem atraindo simpatia. Ainda acredito que a própria cidade fictícia, com uma cenografia bem-construída, também está cativando o público.
P – O fato de ser uma produção de época, que teve muito sucesso, apresenta mais vantagens do que uma trama ambientada nos dias de hoje?
R – Não existem vantagens ou desvantagens. Apenas uma trama de época é bem diferente. Ela já nasce com uma personalidade própria. Além disso, Os ricos também choram pode ser considerada uma grife, com o mesmo "status" de uma Escrava Isaura. São novelas que se tornaram referências na teledramaturgia mundial, verdadeiros ícones.
P – Escrava Isaura também ganhou uma nova versão e serviu para a Record voltar a produzir novelas. Qual é sua avaliação do atual crescimento da teledramaturgia nas emissoras?
R – Quanto mais produções, mais opções para o público e mais campo de trabalho. Esse crescimento vai possibilitar o surgimento de outros gêneros. Espero apenas que um fracasso qualquer não venha a mudar o ânimo do mercado.
