Sob o impacto da última eleição, que terminou sem o substituto do professor Marcos Madeira, a Academia Brasileira de Letras (ABL) escolhe hoje quem vai para a vaga deixada pela escritora e jornalista Rachel de Queiroz, que morreu em novembro. Desta vez há dez candidatos, mas o pleito polarizou-se entre o historiador José Murilo de Carvalho (vencedor do último prêmio Casa de las Américas) e o publicitário e empresário Mauro Salles (conselheiro na criação da Ambev).
Os acadêmicos se dividem. O presidente da ABL, o poeta Ivan Junqueira, garante que a polarização não passa por esse critério, mas outros imortais, que preferem o anonimato, admitem que o debate é esse. O certo é que, dos outros inscritos (Yeda Octaviano, Júlio Romão da Silva, Felisbelo da Silva, Domingos Pellegrini, Benedicto Monteiro, Francisco Silva Nobre e Nelson Valente) apenas o jurista e constitucionalista Paulo Bonavides rouba votos dos dois e todos reconhecem que Salles e Carvalho são nomes excelentes para completar o quadro da Casa de Machado de Assis. O que dificulta ainda mais a escolha.
Carvalho chega com uma extensa produção como historiador numa fase em que esse ramo da literatura está sem representante na imortalidade, e isso lhe dá uma certa vantagem. Salles, publicitário, fez sua propaganda com todos os acadêmicos.
Um experiente acadêmico diz que a eleição se resolverá no primeiro turno, mas não adianta o vencedor. E prevê quatro votos para Bonavides. “Ele é excelente candidato, mas se inscreveu tarde”. O romancista paranaense Domingos Pellegrini fez de sua candidatura um protesto contra a pressa em se inscrever e outros critérios da academia, mas não retirou sua candidatura. Como a queixa foi pública, possivelmente enterrou suas chances de imortalidade neste e em outros pleitos. Afinal, foi contra todos os preceitos e rituais da prévia de uma candidatura, o que Salles e Carvalho cumpriram com presteza.