A última transmissão

Depois de Lester Bangs, a coleção Iê Iê Iê traz outro grande nome da crítica musical: Greil Marcus, autor de A Última Transmissão. Marcus foi o primeiro a assumir o cargo de editor de críticas musicais da revista Rolling Stone, em 1969. O gosto pela música somado à sólida formação acadêmica, cientista político pela Universidade de Berkerley, fez de Marcus um dos melhores críticos de arte do mundo.

Ao contrário do que ocorre com muitos que entram para o círculo das universidades, Marcus não se tornou um escritor com ranço acadêmico, autor de teorias incompreensíveis. Ao contrário. Segundo definiu a Village Voice: ?Como Adorno, e antes dele Wittgenstein e Nietzsche, o forte de Marcus é o aforismo. Essa forma de expressão se encaixa tanto no estilo da sua prosa – elegante, magistral, econômica – como no assunto que escolheu: o rock trata de momentos, especialmente de capturá-los na mente quando eles morrem, e Marcus foi o primeiro a dizer isso?.

Tais atribuições fazem dele um escritor capaz de prender a atenção do leitor comum até o formador de opinião. Capaz de costurar temas tão diversos em um único texto, o autor discursa sobre história popular, política (principalmente de seu país, os Estados Unidos) e a cena musical internacional com a mesma intimidade.

A Última Transmissão reúne críticas sobre Clash, John Cale, Gang of Four, Sonic Youth. Aborda o auge e o declínio do punk e suas raízes dadaístas, citando bandas como o Pussy Galore; faz ligações inesperadas entre Bruce Springsteen, Lênin e Beethoven ou entre Joy Division e O Mito de Sísifo – sobre o suicídio. Também fala sobre o surgimento e significado do New Order na década de 80 e os primeiros anos da Rough Trade, gravadora que inventou a nova cena indie mundial.

Enquanto Bangs afirmava que Elvis Presley era nada mais nada menos que a materialização do herói público, criado no imaginário coletivo, Greil Marcus tece comentários surpreendentemente reveladores sobre o fenômeno pop do cantor.

Citando pensadores como Simon Frith e Roland Barthes, o crítico afirma que a música de Presley era emocionante porque dissolvia os signos que haviam se formado na adolescência e concebe novos símbolos. ?O momento em que sentimos a música nos arrancando dos nossos corpos, escreve Frith, é um momento em que os termos que usamos normalmente para construir e conservar nossa identidade repentinamente parecem flutuar ao léu?, descreve o autor, concluindo que essa é a única forma de explicar o carisma de Elvis Presley.

Num cenário mais político, Marcus traça uma relação direta entre a música ?Pills and Soap?, de Elvis Costello, e o contexto em que canção surgiu: o rigoroso governo de Margaret Thatcher, do Partido Conservador da Inglaterra, que governou o país entre 1979 e 1990. Atribui-se a ela o título de ex-primeira-ministra ?mãos-de-ferro?, uma referência aos cortes orçamentários destinados à área social em troca da redução da inflação e melhora da cotação da libra esterlina. ?Pills and Soap foi originalmente lançada na Inglaterra em 1983, não muito antes da eleição que levou Thatcher de volta ao poder; a música foi lançada sob pseudônimo, creditada a um certo ‘O Impostor’, e retirada de circulação no dia da eleição?, comenta Greil Marcus.

Coleção Iê iê iê

A Última Transmissão é o segundo volume da Coleção Iê iê iê, que trará grandes críticos musicais de todo o mundo. Lester Bangs, autor de Reações Psicóticas, foi o primeiro. A Conrad selecionou o que há de melhor desses autores, que até então não tinham sido traduzidos no Brasil. É rock and roll como literatura e literatura como rock and roll.

O autor

Greil Marcus nasceu em San Francisco, em 1945. Cursou Ciência Política e Estudos Americanos em Berkerley, onde se formou no final dos anos 60. Em 1969, tornou-se o primeiro editor de críticas musicais da história da Rolling Stone, na qual até hoje é colaborador. Também escreveu para as revistas Creem, Artforum, Interview e para o New York Times, entre outros. Em 1975, lançou Mystery Train, livro que redefiniu os parâmetros da crítica musical e o levou a um reconhecimento nunca antes alcançado por um crítico de rock.

Sua importância histórica não se resume à música. Seus artigos e livros oxigenaram o pensamento acadêmico, introduzindo de maneira incontestável temas considerados de menor importância pelos intelectuais em geral. Também foi um dos grandes divulgadores nos EUA de movimentos de contestação como o letrismo, de Isidore Isou, e principalmente o situacionismo, de Guy Debord. Além de Mistery Train, Greil Marcus é autor dos best-sellers Lipstick Traces: A Secret History of the 20th Century e Like a Rolling Stone ? Bob Dylan at the Crossroads, entre vários outros. Atualmente escreve a coluna "Real Life Top 10", para a Salon.com.

Serviço
A Última Transmissão
Greil Marcus
Áreas de interesse: música, jornalismo, biografias, contracultura
Preço: R$ 24,50
Nº de páginas: 160

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