O físico teórico e cosmólogo Stephen Hawking, de 73 anos, tem dedicado sua existência a estudar o tempo. Ele próprio desafiou seus limites ao viver bem mais do que os dois anos previstos pelos médicos quando foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, aos 21. Na época, já era um nome promissor da teoria física e da cosmologia e tinha começado a namorar Jane Wilde, sua primeira mulher, com quem se casou em 1965.

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A Teoria de Tudo, dirigido por James Marsh e indicado a cinco Oscar, fala desse relacionamento que superou muitos obstáculos. “Fiquei interessado porque é o retrato de um casamento, não é uma biografia de Stephen Hawking”, disse o diretor, vencedor do Oscar de documentário por O Equilibrista (2008). “É uma história de amor em circunstâncias incomuns.” O roteiro de Anthony McCarten, indicado ao Oscar, baseia-se na autobiografia escrita por Jane Hawking.

McCarten teve trabalho para convencê-la a vender os direitos, mas, depois de muita insistência, conseguiu. Ele então enviou o roteiro para James Marsh, que gostou do equilíbrio entre Stephen (interpretado por Eddie Redmayne) e Jane (Felicity Jones). “Há igualdade de pontos de vista e ênfase entre os dois. Normalmente, nesse tipo de história, a mulher só apoia e sofre, não é muito ativa.”

Felicity Jones destaca uma frase de sua personagem. “Eu gosto quando ela diz: ‘Eu posso não parecer forte, mas sou'”, afirmou a inglesa de 32 anos, candidata ao Oscar de atriz. Sentiu-se intimidada ao encontrar Jane. “Mas ela foi muito calorosa, aberta, engraçada.” No jantar, ficou observando seus maneirismos. “Ela parece uma bailarina ao se movimentar. Até quando serve o chá, há uma precisão nos movimentos”, disse Jones. “Mas ela tem muita força emocional também. É tenaz e determinada.” Logo no primeiro dia de filmagem, Jane chegou para Eddie Redmayne e disse: “Não, o cabelo de Stephen era muito mais bagunçado”. E tratou, ela mesma, de deixar do jeito como era.

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Eddie Redmayne, por sua vez, ficou tão nervoso ao conhecer Stephen Hawking, cinco dias antes do início da filmagem, que, como diz, falou sobre Stephen Hawking para Stephen Hawking. “Foi complicado porque passei quatro meses me preparando. Então, nesse ponto, ele tinha passado de ícone para ídolo na minha cabeça”, disse o inglês de 33 anos. Sua preparação consistiu em ler tudo o que pode e assistir a muitos vídeos. Com um bailarino, aprendeu a acessar cada um dos músculos, para poder interpretar um homem que perde os movimentos do corpo – hoje, o físico se comunica com o piscar de um dos olhos. Fez um quadro para destrinchar em que momento da doença ele está em cada uma das cenas, já que o longa-metragem foi rodado fora de ordem. Por permanecer muito tempo em posições incômodas, durante a filmagem, precisou visitar um osteopata constantemente. Emagreceu cerca de seis quilos para mostrar a perda de peso de Hawking.

Durante os ensaios, sentava-se na frente do espelho para tentar reproduzir as expressões faciais cada vez mais limitadas do personagem. Mas, naquele encontro, cinco dias antes da filmagem, percebeu que, mesmo movendo poucos músculos, seu rosto é muito carismático. “Ele emana uma inteligência afiada, muito humor, um carisma tal que controla o espaço onde está.” Mesmo depois de tanto preparo, Redmayne perdeu o sono na noite anterior à rodagem das primeiras cenas. “O peso da responsabilidade foi maior do que jamais tinha sentido”, disse o ator, que tinha chamado a atenção do público no musical Os Miseráveis, de Tom Hooper. “Aquele primeiro dia de filmagem de A Teoria de Tudo foi o primeiro dia da minha vida em que não dormi um segundo”, contou.

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Ele só respirou aliviado, de verdade, quando o próprio Stephen Hawking, seus filhos, Jane e seu atual marido, Jonathan (interpretado no filme por Charlie Cox), pareceram aprovar o trabalho. “Esse foi o prêmio mais extraordinário”, disse o ator, que ganhou o Globo de Ouro de performance dramática e é um dos favoritos ao Oscar. “Stephen conta que, depois do diagnóstico, cada dia a mais que vivia era um presente. Então, para mim, fazer esse personagem me deixou a ideia de viver tão completamente quanto possível.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.