O intenso ritmo das gravações da minissérie JK, que estréia no próximo dia 3 na Globo, gera uma certa tensão nos bastidores. Grande parte do elenco, essencialmente os personagens principais, não conseguem descansar do constante troca-troca do belo figurino de época, escolhido a dedo pela figurinista Emília Duncan. ?Tudo está difícil porque estamos contando a história do Brasil num país que não tem arquivos, não tem memória?, constata o diretor Dennis Carvalho. O dia agitado incluía diversas cenas de épocas diferentes, gravadas no cenário de Dona Julinha, a mãe de Juscelino Kubitchek, interpretada por Júlia Lemmertz. Só a calma do diretor de fotografia, Ricardo Gaglianone, se destacava no meio do agito. Enquanto Dennis dava os comandos da sala de edição, Ricardo volta e meia entrava na cena para conferir um filtro de luz. As três fases são definidas por tons de cor bem marcantes. Começo com cores quentes e, à medida que a trama avança, ganha filtros e cores pastéis, sinaliza.
Mesmo com uma infinidade de marcações para cada personagem em cada cena e um cansativo atraso de três horas nas gravações, era visível a familiaridade dos atores com o universo do presidente Bossa Nova – apelido que retrata o constante sorriso de Juscelino. Wagner Moura, que vive JK na juventude, parecia incorporado pelo político, principalmente nas cenas em que contracenava com Débora Falabella, que faz Sarah Lemos, a primeira-dama.
A primeira seqüência de cenas retratava o recatado namoro da época, de JK com Sarah, sob os olhos vigilantes da família: a matriarca Luisinha Lemos, de Louise Cardoso, e as irmãs de Sarah: Amélia, personagem de Rafaela Mandelli, Idalina, da esguia Luiza Mariani e a estreante Rosanne Holland, na pele da irmã Maria Luísa. O lema de Dona Luisinha era: "minhas filhas não fazem feio em lugar nenhum", divertia-se Louise Cardoso, bem à vontade no requintado ambiente da trama, assinado pelo cenógrafo Mário Monteiro.
Tensão e descontração
Mas alguns atores, como Débora Falabella, preferiam evitar brincadeiras para não perder a concentração. Na pele da pacata Sarah, a atriz mostrava um lado genioso da ainda noiva de Juscelino. Em uma das cenas de Sarah com JK, o político avisa que vai fazer pós-graduação no exterior e pede para adiar o casamento. Sarah, voluntariosa, então lhe pede que tire o anel de noivado. Ao término da cena, Dennis começou a descontrair a tensão do estúdio. "Wagner, o que você quer ser quando crescer?", perguntava o diretor da sala de edição, enquanto Wagner respondia pelo microfone: "Ah, quero ser diretor!". "Pensei que você fosse querer ser Deus…", retrucava Dennis.
A descontração só se espalhou pelo estúdio no final do dia, na cena do esperado jantar de noivado, que reuniu todo o núcleo das famílias de Juscelino e Sarah. No sofisticado cenário da sala de jantar da mansão da família de Sarah, até os menores detalhes, como a decoração de rosas dos enfeites das mesas, foram escolhidos para dar o ar romântico que a cena exigia. Nos intervalos, maquiadores e cabeleireiros faziam os constantes reparos nos elaborados cachos, tão usados no final dos anos 20. O ator mais animado era Wagner Moura, cantando funk nos intervalos.
Durante a cena do brinde aos noivos, gravada por duas câmaras no chão e uma na grua, a dificuldade do diretor era enquadrar todos da mesa ao mesmo tempo, onde Sarah, de Débora Falabella, mostrava o quanto a futura mulher de Juscelino era moderna para a época. "Imagine quando souberem que vou casar sem vestido de noiva!", divertia-se a personagem, pouco depois do brinde, diante dos olhares espantados do resto do elenco.
