A surpresa dos atores diante do rumo de seus personagens nas novelas

Quando trabalham no teatro ou no cinema, os atores conhecem a trajetória de seus personagens bem antes de entrarem em cena. Em meses de estudos e ensaios, a composição do papel nasce justamente da análise de suas ações e de seu comportamento em toda a obra. Mas, se o veículo é a tevê, a coisa muda de figura. A não ser que se trate de uma minissérie ou de uma pequena participação, raras vezes os intérpretes conhecem o destino de suas “criaturas” com uma antecedência bem maior que o público. Partindo de uma breve sinopse e de um leve contorno das criações do autor, muitas vezes os atores são surpreendidos por mudanças bruscas de comportamento e, até, de caráter.

Autor de Mulheres Apaixonadas, Manoel Carlos utiliza quase como estratégia o fato de surpreender seu elenco. “Quando os atores me perguntam o que vai acontecer aos personagens, pergunto o que vai acontecer a eles próprios. Se a vida não tem sinopse, novela também não tem de ter”, filosofa.

Não por acaso, a novela é campeã em número de atores boquiabertos diante de seus personagens. E a estratégia parece dar certo. Além de uma audiência com picos de mais de 50 pontos, Mulheres Apaixonadas conta com um elenco satisfeito, que não poupa elogios a Manoel. “Ele só me disse que a Heloísa seria uma mulher ciumenta. Ainda bem. Se soubesse aonde ela chegaria, não teria aceitado o papel”, admite Giulia Gam, longe das novelas desde Fera Ferida, de 1993. Já Tila Teixeira, que vive a médica Teresa, até hoje não sabe se a moça é mesmo tão intrigueira quanto julga a Luciana, feita por Camila Pitanga. “Ela tem sido julgada mais pelo que os outros falam do que por suas atitudes. Mesmo assim, já percebi que é bem interesseira”, constata.

A lista inclui ainda Regiane Alves, que chega a não acreditar nas estripulias da deslumbrada Dóris. “Às vezes, leio os capítulos e rio sozinha. É um absurdo!”, surpreende-se. Há casos, no entanto, em que o próprio autor é pego de surpresa pelas reações do público, que o ajudam a conduzir o destino dos personagens. Foi a aceitação dos telespectadores que adiou a morte de Fernanda, personagem de Vanessa Gerbelli em Mulheres Apaixonadas. Diante de tantas variáveis, resta aos atores manter a tranqüilidade e ir vivendo os personagens à medida em que tomam forma na cabeça do autor. Tarefa complicada para muitos. Durante Esperança, Ranieri Gonzalez chegou a se assustar com uma fala trivial de Francesca, a mãe de seu personagem. “Ela dizia para o Maurício que ia mandá-lo de volta a Paris. Pensei: ?Pronto, acabou a novela para mim!?”, lembra, às gargalhadas. Já o veterano Raul Cortez garante tirar de letra as indefinições do formato. “Ansiedade é para quem está começando. Já vivi muito isso. Hoje, não importa acharem se estou bem ou não, o personagem morrer de repente ou não. O que importa é eu me sentir bem”, ensina.

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