A simplicidade dos versos de Quintana para adolescentes

Em Poeminho do contra, de 1978, Mário Quintana compôs uma de suas doces e bem-humoradas ironias para o fato de ter sido vetado nas três vezes em que foi indicado para a Academia Brasileira de Letras: ?…eles passarão, eu passarinho?. Agora, o célebre verso dá nome ao 41.º volume da coleção Para gostar de ler, da Editora Ática, que reúne 73 poemas do escritor cujo centenário teria sido completado em 2006.

Dividido em quatro partes, Eu passarinho traz um panorama das imagens que Quintana formou a respeito da vida, do dia-a-dia, da infância e juventude e do comportamento humano. Em Paisagem sonhada, o autor revela, com certa inocência, os desejos de um sonhador. ?As falsas recordações? inicia a obra inventando cenas de uma infância ideal, com direito a riacho passando no quintal.

Já em O mundo gira, o que se vê é um retrato do cotidiano e a busca humana em vê-lo atraente, uma vez que a rotina é sina do homem. Desse dia-a-dia fazem parte o amor e o medo.

Entre risos e espantos traz a simplicidade e o humor como principais ingredientes usados pelo poeta, em versos que exprimem seu lado mais doce e bem-humorado, como em Mentira (?A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer?) e Ao pé da letra (?Enforcar-se é levar muito a sério o nó na garganta?).

Por fim, em O criador e a criatura, a espiritualidade e metalinguagem são as chaves para desvendar cada poema. ?Dupla delícia? fecha esta parte, em apenas um verso: ?O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado?.

A combinação entre realidade e fantasia criada por Mário Quintana em Eu passarinho é reforçada pelas belas colagens de Mariana Newlands, compostas de desenhos e fotografias. O livro reúne tanto textos famosos do poeta quanto outros menos conhecidos. São contempladas variadas estruturas de versos, de sonetos a prosas poéticas, comprovando a diversidade de sua obra. Os experimentos criados por Quintana, que se dizia eterno aprendiz, são o que talvez o aproxime cada vez mais do jovem leitor, que pode se identificar com a forma livre e ousada de sua narrativa. Público para o qual Quintana era todo sorriso, com quem tinha prazer em conviver, em trocar experiências. ?Tenho o dom de sempre me achar com a mesma idade das criaturas com que estou falando?, dizia.

Sobre o autor

Mário de Miranda Quintana era gaúcho, de Alegrete, e iniciou sua vocação literária na escola. Antes, porém, de tornar-se ?Mário Quintana?, trabalhou em livraria e na farmácia do pai, foi jornalista e voluntário na Revolução de 30. Foi um dos maiores tradutores brasileiros, transpondo para o português obras de Proust, Voltaire, Balzac e Virginia Woolf. Escreveu poesia e prosa, e entre suas obras estão: A Rua dos Cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espelho mágico (1951), recomendada e prefaciada por Monteiro Lobato; Antologia poética (1966), que reuniu seus mais primorosos poemas e foi considerado o melhor livro daquele ano; e A cor do invisível (1989). Em 1982, foi homenageado com o tombamento do Hotel Magestic, local onde viveu, que passou a se chamar Casa de Cultura Mário Quintana. Faleceu em maio de 1994, aos 87 anos. Em 30 de julho de 2006, comemorou-se o centenário de seu nascimento.

Ficha Técnica

Eu passarinho, autor: Mário Quintana. Sugestão de faixa etária: 11 – 12 anos / 5.ª e 6.ª série. Preço: R$ 21,90.

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