A semelhança não é coincidência

Giuseppe Oristânio nunca teve maiores interesses em política. Mas passou a acompanhar mais as notícias da atual crise política brasileira desde que seu personagem de A Lua Me Disse suscitou uma discussão sobre o assunto. Se antes a história política de Armando era restrita às visitas ao "povão" para tentar se eleger, agora o candidato a deputado federal na trama virou uma espécie de alter ego dos maus políticos nacionais e enfrenta situações idênticas às mostradas na TV Senado. Tanto que, para compor o lado corrupto de seu papel, basta para o ator assistir aos depoimentos de autoridades na CPMI dos Correios ou do Mensalão. "A novela é um retrato da sociedade brasileira. O Miguel aproveita o poder de alcance que a tevê tem para repercutir essas maracutaias do nosso governo", avalia o ator.

Mas o interesse pelo tema não pára por aí. Assim que terminar a novela, Giuseppe estréia na peça Maracutaia, novamente ao lado de Miguel Falabella. O espetáculo, que abre a temporada em Brasília, enfoca justamente as mamatas dos corruptos brasileiros. Só que a idéia não é fazer drama ou discursos sobre como deveria ser a política nacional. Pelo contrário. O objetivo é satirizar a atual crise do governo. "Vamos mostrar a voracidade que as pessoas têm de se dar bem sem fazer esforço", explica.

P – O que você acha de seu personagem "representar" na novela alguém envolvido no atual escândalo da política brasileira?

R – Já estava previsto que ele ia se envolver com política, mas esse lado ficou mais forte para que os autores pudessem falar de "mensalão", de malas de dinheiro… A vida do Armando ficou muito parecida com a de um grupo lá de Brasília. Isso é muito útil. Já que não temos o poder de polícia e nem o de dar murros em alguns deles, o caminho é criticá-los através da arte. O Armando é aquele tipo de candidato que odeia o povão, mas não perde uma chance de fazer média para conquistar votos. Com o humor do Miguel, posso tirar um sarro da cara desses políticos e através da gozação denunciar tudo isto.

P – Qual é a resposta que você recebe do público?

R – Toda hora alguém fala que quer bater em mim. Claro que é sempre num tom de brincadeira. O povo já sabe diferenciar o ator do personagem. Então, tenho a sensação de que o público está entendendo direitinho o recado que a novela está dando. Fico muito feliz com isso. Nessas horas até agradeço a Deus pelo fato de ser ator.

P – Aos 40 anos de idade e 33 de carreira, qual é o balanço que você faz?

R – É uma profissão muito difícil e apaixonante. A gente tem muitos motivos para desistir. Tem muita injustiça e dificuldade. Às vezes, você quer montar uma peça e não tem verba. Quando consegue montar, ninguém vai assistir ou a crítica desce a lenha e desclassifica o seu trabalho. Já pensei em largar essa profissão várias vezes. Em compensação, as gratificações também são enormes. Fazer um trabalho como esse da novela me ajuda a persistir. Eu lavo a alma ao interpretar essas figuras corruptas do nosso cenário político. Funciona até como terapia. A única coisa chata é que nem sempre a gente consegue ter bons trabalhos.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo