A cada nota, um sentimento e uma emoção diferente. Assim é o trabalho do maestro e pianista João Carlos Martins, de 67 anos de idade, que com apenas três dedos faz o que muitos músicos não conseguem fazer com dez, arrancando aplausos e muitas vezes levando seu público às lágrimas.
Esta semana, João esteve em Curitiba, regendo a Orquestra de Câmara da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), em apresentação realizada no Teatro Guaíra. O artista está viajando o Brasil, muitas vezes na companhia de sua orquestra Bachiana Chamber, para apresentar o CD Paixões, no qual toca músicas de Bach, Mozart, Schumann e Tom Jobim. Entretanto, também desenvolve um trabalho com portadores de necessidades especiais e ministra palestras sobre superação.
Considerado um dos maiores intérpretes de Bach do planeta e autor do livro A Saga das Mãos, João fala de superação por ser exemplo da mesma. Ele começou a tocar piano aos oito anos de idade, deu início à sua carreira nacional aos 13 e começou a tocar no exterior aos 18. Entretanto, aos 26 anos, jogando futebol, sofreu um acidente e rompeu um nervo do braço direito, perdendo o controle sobre o movimento de três dedos. Posteriormente, também perdeu parte dos movimentos da mão esquerda.
O maestro e pianista também trabalha com jovens carentes. |
?Quando sofri o acidente, achei que ali tinha acabado meu sonho de trabalhar com a música. Dos 26 aos 62 anos, tive a vida mais difícil que um artista poderia ter tido. Por duas vezes interrompi minha carreira, ficando quatorze anos afastado. Fui empresário de boxe e estudei economia. Entretanto, se naquela época eu tivesse a maturidade que tenho hoje, nunca teria me afastado da música?, diz.
E é através de sua própria história de vida que João tenta incentivar as pessoas a superarem os próprios limites, buscando sempre a felicidade. ?Percebi que eu só podia tocar com três ou no máximo quatro dedos, mas que ainda podia atingir o coração das pessoas. Quando nascemos, somos como uma flecha. Temos um destino a atingir e, antes de chegar a ele, enfrentamos muitos obstáculos. Alguns são quase impossíveis de serem ultrapassados e exigem que tenhamos muita força interior e determinação. Outros, temos que ter humildade e admitir que são intransponíveis. Estamos no caminho certo quando temos discernimento para diferenciar uns dos outros?, afirma.
Bastante carismático, João Carlos também é regente de outra orquestra, a Bachianinha, onde trabalha com jovens carentes da periferia de São Paulo, que já começam a se tornar multiplicadores do trabalho do artista. Para o futuro, a idéia do maestro é transformar Bachianinha em um produto de exportação, tornando-a também exemplo de qualidade.