A riqueza da obra de Chaplin, em 20 DVDs

Embora agora meio em segundo plano, durante muito tempo seu nome foi praticamente sinônimo de cinema. Chaplin – A Obra Completa, caixa de 20 DVDs da Versátil, permite percorrer a íntegra do criador de Carlitos, desde quando o personagem ainda não existia até a parte final da obra, quando o Vagabundo deixou de comparecer na tela, pelo menos na aparência. São 13 longas-metragens e 65 curtas, com muitos extras que permitem situar a importância da obra e resgatar-lhe o significado.

A trajetória de Chaplin é única, em toda a história do cinema. Da infância miserável em Londres, alçou-se a gênio milionário nos Estados Unidos, criador do personagem universal que evoca a bondade e a compaixão em meio à pobreza. Mas também a malícia e a esperteza, o confronto com patrões e com a polícia, isto é, com as classes dominantes e com o aparato repressor do Estado. Essa postura de artista, e também algumas amizades e atitudes na vida privada, fizeram de Chaplin persona non grata diante do Comitê de Atividades Antiamericanas durante o macarthismo. O que o levou a deixar os Estados Unidos e estabelecer-se na Suíça, onde morreu no dia de Natal de 1977 aos 88 anos.

O cinéfilo que acompanhar seu percurso filme a filme assistirá à lenta construção desse personagem emblemático, um dos ícones mais fortes do século 20, sem qualquer dúvida. Ele vai sendo afinado pouco a pouco até surgir na fase da empresa Essanay, quando por fim em O Vagabundo todos os traços da figura são reunidos. As calças desengonçadas, a bengala, os sapatos cômicos, o chapéu coco, o bigodinho – quem não conhece a figura? Muito antes que alguém falasse em globalização, ela se difundiu em todos os cantos do mundo através da arte universalizável que é o cinema, em especial em sua fase muda, dependendo em tudo da mímica e nada do idioma para se comunicar.

Então vieram os longas-metragens que colocaram Chaplin no topo do cânone do cinema do século passado – Em Busca do Ouro (1925), O Circo (1928), Luzes da Cidade (1931), Tempos Modernos (1936), O Grande Ditador (1940). Com a arma do humor visual em suas gags célebres, Chaplin aborda grandes temas do seu e de todos os tempos – a ambição a devorar o homem, mas que pode ser redimida pela força da bondade que também leva dentro de si; a desumanização causada pela mecanização do mundo, a grande ameaça dos totalitarismos, e por aí vai. É como se todo um programa de crítica social estivesse contido nas singelas trapalhadas do grande vagabundo.

Odes e ataques

Essa ambição de fundo não passou despercebida nem pelo público e nem por artistas e intelectuais. Chaplin tornou-se “a” figura do cinema mundial durante muitos anos. Seus ideais humanistas o fizeram admirado por gente como Albert Einstein e Pablo Picasso. Entre nós, inspirou a fundação do Chaplin Clube, associação de cinéfilos como Otávio de Faria, Plinio Sussekind Rocha e outros, incumbidos de defender a pureza da linguagem cinematográfica que tinha nele sua figura de destaque. Carlos Drummond de Andrade escreveu um longo poema, Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin, uma ode ao Vagabundo: “Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo/Crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores/Ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e esperança”.

CHAPLIN – A OBRA COMPLETA – Caixa com 20 DVDs; Versátil, R$ 199,99.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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