A reinvenção do Natal

Apesar de que o Natal tenha, por vezes, se tornado uma festa comercial; apesar de que se fantasie sobre a noite de 25 de dezembro, como se fosse uma noite mágica em que todas as pessoas estão em paz, os distantes se aproximam e os participantes das reuniões de confraternização têm a melhor das intenções; apesar dos presentes que agradam ou decepcionam, o Natal anual é um dos muito Natais.

O Natal acontece nas relações humanas, em cada família, sempre de um jeito único e com significados próprios. Existem Natais que envolvem somente cumprimentos. Outros envolvem reconciliação. Outros envolvem a colocação de assuntos familiares em dia. O Natal é relação, é reinvenção.

Da mesma forma que a flor desabrocha e nem sempre se vê seu encanto; da mesma forma que os pássaros cantam e nem sempre lhes damos atenção; da mesma forma que as pessoas se superam no silêncio do coração… o Natal ocorre na tranqüilidade do coração sempre que existem relações se estabelecendo, a exemplo das relações construídas entre o aniversariante Jesus Cristo e seus seguidores.

O antropólogo Marcel Mauss sugere algo especialmente significativo, com base em pesquisas realizadas entre os povos polinésios: a obrigação de dar, receber e retribuir, que constitui o tema da prestação total. Entre eles, ?recusar dar, negligenciar convidar, assim como recusar receber, equivale a declarar guerra; é recusar a aliança e a comunhão. A seguir, dá-se porque se é forçado a isso, porque o donatário tem uma espécie de direito de propriedade sobre tudo o que pertence ao doador. Essa propriedade se exprime e se concebe como um vínculo espiritual. Em tudo isso há uma série de direitos e deveres de dar e de receber. Mas essa mistura íntima de direitos e deveres simétricos e contrários deixa de parecer contraditória se pensarmos que há, antes de tudo, mistura de vínculos espirituais entre as coisas, que de certo modo são alma? (Ensaio sobre a dádiva, in: Sociologia e Antropologia, 2003, p. 202).

Ao desejar Feliz Natal aos leitores e ao pessoal do jornal O Estado do Paraná, que me possibilitam este contato, afirmo que sua presença é muito cara e que além da comunicação de quem escreve e de quem lê, ocorre a comunicação que transcende a relação utilitarista por se tratar de vínculos sociais.

Ao desejar-lhes Feliz Natal, imagino que todos os seus momentos escondem nascimentos e renascimentos… Então que cada dia de 2007 redobre a sua felicidade fazendo de sua vida uma constante reinvenção do Natal e que entre os presentes mais queridos vocês ganhem muita paz e saúde em abundância.

Zélia Maria Bonamigo é  jornalista, mestre em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

zeliabonamigo@terra.com.br

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