Generalização
A reportagem de 7 de março afirma: ?Estudiosos nunca tiveram como mapear com certeza o destino de todos os xetás?, mas não cita nomes. A antropóloga Carmen Lucia lembra que, na década de 50, existiram diversos pesquisadores, como o antropólogo e professor da Universidade do Paraná, José Loureiro Fernandes, a arqueóloga Annete Laming-Emperaire, os lingüistas Èestimir Loukotka e Aryon Dall?Igna Rodrigues, o cinetécnico Vladimir Kozák, entre outros.?
Reemergência
Nas reportagens de 6, 7 e 8 de março, afirma-se que Carmen Lucia da Silva é autora do projeto de reagrupamento dos xetás. Com veemência a pesquisadora nega: ?Não sou responsável pelo projeto de reagrupamento, que por sinal não existe. O que houve foi a criação de um grupo de trabalho, através da Portaria 984/PRES de 20/10/1999, com vistas a ?proceder estudos de viabilidade de reagrupamento dos remanescentes xetás?, coordenado pelo assessor de assuntos indígenas do Estado do Paraná, o senhor Edívio Battistelli. Deste grupo eu não fiz parte?.
A pesquisadora afirma que jamais faria um projeto de reagrupamento dos xetás porque ?eles são sujeitos de seus interesses e vontades. Só a eles cabe a agência de um projeto reivindicatório do direito de retomarem suas vidas juntos para revitalizar sua cultura e garantir a sua sobrevivência física e cultural. A reemergência étnica é algo que vem de dentro para fora, não o contrário, e ela vem ocorrendo em diferentes regiões do Brasil, principalmente no Nordeste. Fazer um projeto com essa intenção é pensar que os xetás não têm agência, que eles não pensam por si próprios. Significa tratá-los como objetos, e eles não o são. Aconteceu, no passado, quando foram tirados de seus lugares por acharem: ?Ah! este é bonitinho, vou criar?, ?ah! este vou trocar por um boné para poder torná-lo um bom cristão?, ?ah! estes não têm mais mulheres, vou levá-los comigo?. Assim foram dispersos. Agora, não se pode repetir o mesmo erro ao se pensar um caminho de volta?.
Carmen observa que ?falar em reagrupar soa estranho até para eles. Mas falar num convívio para revitalizar a língua, com base nas experiências históricas do passado e do presente, lutar para voltar a viver juntos, no lugar onde estão suas memórias e seus antepassados, não são apenas desejos que alimentam, mas direitos. E hão de saber como fazer isso, da mesma forma que souberam resistir até os dias atuais?.
Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestranda no programa de pós-graduação em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
E-mail: zeliabonamigo@uol.com.br