A produção musical erudita

Realçando a importância do contexto de cada cultura específica para cada sociedade, Paulo de Tarso Salles questiona, em Aberturas e impasses – O pós-modernismo na música e seus reflexos no Brasil 1960-1980, a pertinência do conceito de pós-modernismo para os estudos sobre a música erudita contemporânea. Articulando reflexão teórica e pesquisa histórica, o autor refuta este termo tanto como adesão estética ou definição estilística quanto como um olhar crítico exterior a uma ?manifestação exacerbada da cultura de massas?.

Para contextualizar de maneira mais adequada a questão da música no pós-modernismo e das variadas definições e implicações ideológicas, sociológicas e políticas, Tarso Salles reflete sobre os significados de modernismo e música moderna, avançando então para as ?considerações pós-modernas ao redor da música?. Comparando os discursos com a produção musical, chega à música erudita brasileira e constata que, nela, o conceito de pós-modernismo assume peculiaridades muito distintas dos modelos norte-americano e europeu. Aberturas e impasses extrai dos trabalhos de Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, Hans Joachim Koellreuter, Marlos Nobre e do grupo Música Nova os significados próprios dos dilemas estéticos e políticos da produção musical nacional entre 1960 e 1980.

Este panorama crítico permite pensar como os processos antropológicos e sociais do Brasil estão relacionados com as estruturas musicais das composições escritas nesta época: o projeto modernização do país e a busca obstinada pelo folclore, o flerte com a estética do realismo socialista, o golpe de 64 e o abalo nas convicções da escola nacionalista de Guarnieri, o projeto modernizador do governo militar e o domínio da cena musical por Nobre, a abertura política e a construção de uma música com ?elementos outrora incompatíveis?. Esta leitura de Tarso Salles, além de se constituir em uma original perspectiva metodológica de abordagem da música erudita brasileira, oferece uma base histórica consistente para se pensar os dilemas atuais da música contemporânea, dilemas cuja complexidade não cabem em uma simples definição estilística e não são elucidados a partir do conceito de pós-modernismo.

Sobre o autor

Paulo de Tarso Salles atua como compositor, professor e violista. Chegou a cursar Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, curso que deixou incompleto para dedicar-se totalmente à música. Atualmente é doutorando no Instituto de Artes da Unicamp, desenvolvendo estudos sobre processos composicionais de Villa-Lobos, ao mesmo tempo em que divulga suas pesquisas sobre a música no pós-modernismo.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo