Considerado genial escritor pela autoria de 86 romances que compõem a Comédia Humana e por ter escrito diversas outras obras filosóficas, Honoré de Balzac (1799-1850) é hoje também considerado o profeta, preditor ou precognitor da Projeciologia, vislumbrando a necessidade desta ciência 150 anos antes de sua proposição oficial.
Balzac nasceu em Tours, capital da Toraine, França. Após diversos revezes, aos 29 anos, começa a fazer sucesso com seus romances que retratavam com realismo o cotidiano e os modos das pessoas na fase de grandes mudanças após a revolução de 1789. Quatro anos depois (1832), escreve a novela autobiográfica Louis Lambert. Nesta obra, revela seu gosto por estudos do “ocultismo” dos fenômenos paranormais. O personagem Louis Lambert é usado por Balzac para tratar do tema das experiências fora do corpo que ele mesmo vivenciara. No enredo, Lambert consegue confirmar que esteve fora do corpo ao fazer um passeio fora do internato religioso no qual Balzac estudava.
Após esta confirmação para si mesmo, o personagem é usado para especular sobre as possibilidades do ser humano fora do corpo e afirma: “Se a paisagem não veio até mim, o que seria absurdo pensar, vim eu até ela. Se eu estava aqui enquanto dormia na minha alcova, este fato não constitui uma separação completa entre o meu corpo e o meu eu interior? Não atesta, não sei que faculdade locomotora do espírito ou efeitos equivalentes aos da locomoção do corpo? Ora, se meu espírito e meu corpo puderam separar-se durante o sono, por que não poderei eu divorciá-los igualmente durante a vigília? Não entrevejo meio-termo entre estas duas proposições. Mas vamos mais longe, esmiucemos o problema. Ou esses fatos se verificaram pelo poder de uma faculdade que põe em movimento um segundo ser ao qual meu corpo serve de invólucro, pois estando na minha alcova vi a paisagem e isto derruba muitos sistemas. Eu andei, vi, ouvi. Se, durante a noite, com os olhos fechados vi em mim mesmo objetos coloridos, se ouvi rumores no mais absoluto silêncio, e sem as condições exigidas para que o som se formasse, se na mais absoluta imobilidade atravessei espaços, então os homens terão faculdades internas, independentes das leis físicas exteriores. A natureza material seria então penetrável pelo espírito. Por que terão os homens refletido tão pouco até agora sobre os acidentes do sono que acusam neles uma dupla vida? Não haverá uma nova ciência neste fenômeno? Se não é o princípio de uma ciência, certamente mostra no homem enormes poderes; anuncia ao menos a desunião freqüente das nossas duas naturezas; fato em torno do qual volteio há tanto tempo. Enfim encontrei um testemunho perfeito da superioridade que distingue os nossos sentidos latentes dos nossos sentidos aparentes! Homo duplex!”
O cotejo entre a previsão de Balzac e a proposição efetiva da Projeciologia foi feito pelo próprio estudioso que propõe a ciência das experiências fora do corpo, Waldo Vieira, em sua rotina de estudos, em 1982, após 20 anos de investigações em tempo integral sobre o tema.
Daniel Muniz é jornalista e professor do IIPC no Rio de Janeiro.