De um jeito bem único, ela conseguiu trazer seu som, sua arte, de uma forma que não só acabou bem entendida pelo seu público como também foi bem quista pela crítica. É dessa forma que Priscilla Alcântara apresenta O Final da História de Linda Bagunça, duas músicas e um áudio que completam o tão elogiado disco Gente, lançado no ano passado. O novo material, chamado de ‘bundle’, que foi lançado nesta quinta-feira (26), fecha o ciclo do primeiro álbum, que fala de amor, mas trazendo mensagens sobre saúde mental e funciona como uma transição para o novo disco da cantora, que sai no ano que vem.
À Tribuna do Paraná, Priscilla contou que sempre foi do tipo de pessoa que não tenta mudar o destino, “o que tiver que acontecer, vai acontecer” e que o novo projeto surgiu justamente dessa necessidade de atender aos seus próprios sentimentos. “Acredito que a minha arte tenha alma, então às vezes tem vontade própria. Embora estabeleça limites, deixo minha arte livre para acontecer como ela deseja vir ao mundo e foi assim que aconteceu”.
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Desse projeto de transição, que traz um áudio enviado por Priscilla a uma amiga (e que recebeu o nome de 188, fazendo alusão ao Centro de Valorização da Vida, o CVV) seguido de duas canções que, praticamente, se explicam pelo áudio inicial, uma música já tinha sido escrita, mas a cantora não tinha pretensão de lançar. “Eu tinha escrito Linda Bagunça há muito tempo, mas estava na lista de músicas que eu escrevi para mim e que nunca ninguém vai ouvir, porque é muito pessoal. Final da História era uma faixa que eu tinha escrito e que tinha pretensão de lançar, mas não sabia como, em que projeto essa música faria parte”.
O bundle surgiu num dia que Priscilla acordou com Linda Bagunça na cabeça e sentia que deveria lançar. “Alguma coisa me dizia que precisava lançar essa música, porque faria sentido para muita gente. Analisei como estava minha situação artística, vi que eu poderia fazer um projeto de transição entre o álbum anterior e o novo, então decidi. Passou por vários formatos até chegar nesse formado de um bundle, com três faixas, e que chegaria no mês de setembro, que é o mês do setembro amarelo, de prevenção ao suicídio. Quando vi que isso ia acontecer decidi fazer de forma mais intencional, unindo o útil ao agradável. Achei que fazia muito sentido lançar um projeto que concluísse a temática do álbum ‘Gente’ antes de lançar um novo álbum, com uma nova temática”. Ouça o projeto lançado:
Temática pesada
O tema que provocou Priscilla é pesado e visto, em grande parte do tempo, como um tabu no meio religioso, onde, embora a cantora não queira adsorver o título de ‘cantora gospel’, é a maioria de seu público. Apesar disso, inspirada em suas próprias experiências, Priscilla aborda o tema, sem qualquer julgamento, e levanta a bandeira da atenção com as questões da mente.
“Sempre que você tende a fazer algo que a maioria não está fazendo, é um desafio. Mas também vale a pena, dependendo do propósito, e eu realmente vejo propósito, importância, em falar sobre assuntos, abordar temáticas e não só me limitar a uma temática religiosa, porque nem todo mundo tem o mesmo sistema de crenças que eu. Se eu limitar minha arte a uma temática religiosa, eu vou acabar limitando minha comunicação e eu quero fazer o contrário, quero ampliar, por isso que eu adoro explorar as temáticas, por mais que acabe sendo um risco para mim, mas não me importo porque acho digno”.
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Ao explorar a temática da saúde mental, Priscilla percebeu o quanto falar sobre o assunto era importante, ainda mais num momento como estamos vivendo, onde muitos jovens acabam sem se entender justamente por problemas do tipo. “Decidi explorar uma temática que é da saúde mental, das emoções, da vulnerabilidade, porque eu sei o quanto isso é importante para a minha geração e também é inerente a todo ser humano. A gente precisa falar disso, ainda mais quando a gente consegue também trazer luz para essas questões”.
Priscilla percebeu que o contato com as pessoas, principalmente pelas redes sociais onde ela tem muita força, também pedia que ela se posicionasse sobre o assunto. “Muitas vezes lia mensagens que me enviavam e percebia que essas pessoas não têm voz. Olhando para a plataforma que eu tenho, percebi que eu precisava usar isso de outro jeito que não fosse só para benefício próprio. Refleti assim. E decidi que eu seria uma voz para as pessoas que não tem voz. Essa questão da saúde mental é muito condenada, as pessoas acabam reféns dessa pressão desnecessária, e eu resolvi ajudá-las, ser uma voz”.
Experiência pessoal
Além da sensação de que ao seu redor muita gente sofre e que isso por si só já seria motivo para levantar bandeira, Priscilla acabou percebendo que não estava longe do que via acontecer. “Tive uma crise emocional, por conta de um acúmulo, e vejo que precisei passar por isso para também cuidar de mim, coisa que eu nunca tinha feito da maneira correta. Foi um momento muito delicado, mas eu decidi abraçar o meu processo e não me tornar refém dele, para enfrentá-lo e entender o que eu tinha que aprender daquilo e que eu tinha que passar”.
Enquanto entendia o que acontecia com ela, Priscilla também percebia que esse momento ruim não poderia durar para sempre. “Eu nunca tive, em minha cabeça, que eu tinha que permanecer naquele lugar. Foi através disso que eu entendi que era uma fase e que se eu abraçasse o processo e enfrentasse eu teria mais chance de sair daquilo viva”, explicou ela, completando que, como parte do processo, passou por terapia, mas também começou a tentar se entender mais. “Comecei a explorar mais esse mundo das minhas emoções, que antes eu era muito negligente. Foi muito delicado, mas sempre fui uma pessoa de muita fé, então equilibrei essa situação entre a emoção e a razão e estava disposta a renovar minhas energias. Me forçava a enxergar as coisas mais a frente. Era uma fase que passaria e passou. Me esforcei muito para que eu tirasse algo positivo disso tudo e de fato consegui transformar minha dor em cura, consegui enxergar beleza no caos e adquiri conhecimento para hoje poder ajudar as pessoas”.
A depressão, conforme a própria cantora, precisa ser entendida como algo que pode afetar a qualquer um. “É um assunto que precisa se falado de forma aberta, honesta, porque é uma realidade do ser humano e precisamos lidar com isso, ter empatia e buscar conhecimento sobre o assunto. Depressão é o mal do século, virou uma epidemia e que já tomou tanta conta da minha geração de uma forma que eu não tinha como fechar os olhos. Tem tanta gente levantando bandeira sobre tanta coisa e eu decidi levantar mais uma. Decidi pegar essa bandeira para mim”.
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Arte como colaboração
Priscilla, que até chegou a pensar em fazer ‘arte pela arte’, sem se preocupar como seu trabalho afetaria seu público, entendeu que isso não faz parte dela. “Estava numa crise artística e queria produzir arte pela arte, queria fazer música sem pensar em ajudar ninguém, mas fiz um teste de personalidade que deu que eu era uma ajudadora. Sendo verdade ou não, aquilo me trouxe um insight que me fez pensar sobre como eu vou ajudar as pessoas e que isso vai estar sempre em mim. É da minha personalidade”.
Para a cantora, isso se torna, sim, uma responsabilidade, mas o peso diminui. “Acaba não sendo uma responsabilidade tão pesada, porque acho que nasci com esse instinto, mas é uma responsabilidade no sentido de que vou falar para muita gente e em nome de muita gente, então eu preciso pensar, tenho que trazer algo embasado numa verdade, tomar mais cuidado porque estamos lidando com pessoas, não só sobre números, streamings e bater recordes. São pessoas que levam em consideração tudo que você fala, então eu resolvi condicionar a minha arte a isso e, embora seja um pouco mais denso do que se eu fizesse arte pela arte, vale a pena”.
Cantora, apenas!
Ela, que ficou conhecida por apresentar o programa Bom Dia & Cia, do SBT, por alguns anos, sempre teve apreço muito grande pela música. Priscilla começou sua carreira como cantora de um jeito tímido, produzindo seu primeiro disco sozinha, mas sempre com uma pegada para o lado religioso, simplesmente por ser Cristã. Hoje, depois de seis discos lançados, ela entende que não quer ser vista como uma ‘cantora gospel’, mas sim como uma cantora. “Me vejo como uma cantora. Tenho o meu discurso, mas é sempre como eu enxergo a minha arte e infelizmente não é assim que as pessoas me enxergam”, explica.
Para Priscilla, o fato de aceitar que seja uma cantora gospel faz com que sua arte seja limitada. “E isso é muito triste para qualquer artista. Se dizem que eu sou uma cantora gospel, tecnicamente eu só posso me comunicar bem com esse nicho e eu não acredito nisso, acredito que desenvolvi habilidades no meio do caminho que me permitem me comunicar com todo tipo de gente. Seria uma tamanha injustiça com o meu conteúdo limitá-lo a só um nicho, só um gueto e eu não acho isso justo”.
Mesmo com muita gente ainda enxergando Priscilla com um rótulo de cantora religiosa, ela não se permite isso. “Não me permito mesmo ser rotulada, limitada, por mais que as pessoas me vejam assim, eu não me vejo e não me permito me colocar dessa forma, porque acho que a prioridade é comunicar uma mensagem, um conteúdo, e eu preciso expandir esse conteúdo e qualquer coisa que vá me limitar eu já me sinto muito incomodada”.
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Indicação ao Grammy Latino
Se existia algum tipo de dúvida se seu trabalho era ou não compreendido, Priscilla teve resposta: seu último disco completo, Gente, foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Cristã (Língua Portuguesa). Para a cantora, é algo surreal, que ela mesma tinha como uma fantasia de criança. “Brinquei com minhas amigas que é o meu maior sonho, não é nem só questão de ganhar, é de estar inserida nisso, é muito surreal”.
Tirando a questão da realização pessoal, a cantora entende que uma indicação dessas respalda em muita coisa. “O disco foi muito aceito pela proposta dele, mas também muito criticado. Isso foi um respaldo de que Gente concluiu e cumpriu o que veio fazer, independente das opiniões alheias e das pessoas que não conseguiram compreender o propósito dele. É um álbum extremamente significativo, não foi só mais um passo profissional, mas também uma quebra de paradigmas, sobre tomar riscos em prol de alguma coisa, que foi essa minha visão de ampliar o meu conteúdo para além de um nicho que queiram me colocar”.
Para Priscilla, Gente cumpriu muito bem seu papel e a indicação é, sim, uma resposta. “Vê-lo ser reconhecido, pra mim, é um privilegio. Ser indicada ao Grammy é uma coisa que estava muito distante, apesar de ser uma certeza de que um dia aconteceria, então veio antes do esperado e me incentivou a continuar fazendo o que eu estou fazendo e ousar sempre”. Ouça o disco Gente:
Novo disco vem aí!
Apesar do lançamento deste bundle, como foi explicado, o projeto funciona como uma transição para o novo álbum, que já está quase saindo do forno. “A gente começa o ano já com álbum novo, mas vai ser um disco diferente, que aborda uma outra temática e vem mais confiante na questão da linguagem. Gente foi uma coisa mais experimental, que poderia dar certo ou não, e como deu certo eu posso, de uma forma mais segura, aprofundar minha linguagem, minha visão. As pessoas já entenderam como eu faço, o que eu faço e porque eu faço. Por isso o projeto vem mais seguro, mais maduro, então com uma linguagem mais definida do que Gente”.
Além do novo disco, que ainda não teve o nome divulgado, Priscilla também está preparando outros materiais e projetos. “Também estou planejando algumas coisas mais para a área do cinema, mais para a parte de roteiro e direção, adoro trabalhar com audiovisual, é meu jeito de trabalhar. Ano que vem tenho esse álbum, que é muito grande, mas tem também um curta-metragem que vem caminhando junto com o disco. Além disso, tenho também o evento que idealizo pelo quinto ano, que é o Até Sermos Um, que no ano que vem vamos estar no Allianz Parque. Por fim, também estamos gravando documentário, então são projetos grandiosos que vou ter que me dedicar bastante”.
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