O arquiteto Oscar Niemeyer é uma usina de surpresas. Quando se pensa que ele já contou tudo que fez de bom em 97 anos muito bem vividos, ele aparece com o livro Minha Arquitetura – 1937-2004 (Editora Revan, R$ 150), em que analisa seus projetos, conta como trabalha, fala de amigos e companheiros de profissão e política e ainda ensina o caminho das pedras para se tornar um dos maiores arquitetos do mundo. “É preciso estar atento para não se perder na técnica”, ensina. “Cada arquiteto tem seu caminho, mas todos precisam ler, se informar, nunca se fechar em sua profissão”, acrescenta Niemeyer.
O livro foi uma idéia de Ricardo Ohtake, que pesquisou e mandou fotografar da melhor forma possível e nos melhores e mais inusitados ângulos o que foi construído a partir dos desenhos de Niemeyer. Há também reproduções destes e comentários sobre cada trabalho, realizado ou não, desde a Pampulha, bairro que projetou nos anos 40, a pedido do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek. Foi a primeira vez que a arquitetura moderna se encontrou com as artes plásticas e hoje todo o conjunto, a capela, o cassino (que virou museu) e o entorno da lagoa, é exemplo do que melhor se produziu no País.
O livro enfoca também obras recentes, ainda não realizadas, como a Escola de Ballet Bolshoi, que será construída em Joinvil-le, e a quadra da escola de samba Unidos de Vila Isabel, que fez dele seu enredo há dois anos. No livro, Niemeyer fala de cada amigo, com especial carinho de Lúcio Costa, seu parceiro na construção de Brasília, e de Juscelino, o homem que resolveu e construiu uma capital da noite para o dia. Os três têm em comum, antes da realização dessa empreitada, a disposição infinita de realizar seus sonhos. E, nisso, o arquiteto sempre surpreende. Seja ao falar para um grupo de estudantes que ainda tem um longo tempo de luta pela frente, seja quando lembra que é preciso abrir o coração para o mundo, pois “a vida é curta e sem sentido”. Isso, aos 97 anos.
Niemeyer conta também que seus desenhos devem ser entendidos numa primeira conversa com sua equipe, pois, se isso não acontece, ele sente que há algo de errado no que projetou e abandona aquela idéia. Mas seu principal auxiliar, o engenheiro e seu calculista José Carlos Sussekind, lembra no prefácio que ele é absolutamente claro em suas idéias e aberto às de quem o rodeia. E define o amigo de longa data, em farta correspondência e conversas intermináveis, como “o arquiteto do século 20”, por ter influenciado toda a produção dos últimos cem anos, mas lembrando que o século 21 ainda terá muito a aprender com Oscar Niemeyer.