A nova dramaturgia

O Paraná tem três representantes entre os autores da Região Sul agraciados com o Prêmio Funarte de Dramaturgia 2003, cujos vencedores foram divulgados ontem no site da Fundação Nacional de Arte do Ministério da Cultura (www.funarte.gov.br): o londrinense Domingos Pellegrini Jr. ficou em segundo lugar na categoria adulto, com a peça A Morte do Coitado; o terceiro lugar ficou com o paulista radicado em Curitiba Edílson Pereira dos Santos, editor de O Estado, pelo texto Sr. Melancia Quer Mandar. E, na categoria infantil, o curitibano Renato Paulo Carvalho Silva, “vice-campeão” com A Carroça de Vento.

A edição deste ano do prêmio superou as expectativas: houve mais de 950 inscritos em apenas um mês. Pela primeira vez, a premiação também foi dividida por regiões (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste), cada qual com sua comissão julgadora. O concurso ofereceu 160 mil reais aos primeiros colocados, em um total de trinta prêmios, nas duas categorias.

A regionalização do prêmio agradou ao jornalista e escritor Domingos Pellegrini Jr.: “A Funarte está fazendo a coisa certa. Dessa forma, o prêmio atende às peculiaridades regionais”, considera.

Vencedor de dois prêmios Jabuti – pelo livro de estréia, O Homem Vermelho (1977), e outro recentemente por O Caso da Chácara Chão, seu terceiro romance – Pellegrini não se dedicava à dramaturgia desde os tempos de movimento estudantil. “Estou voltando a escrever para teatro, e A Morte do Coitado marcou este recomeço”, revela o autor, que lança esta semana em Londrina a nova edição do romance Terra Vermelha, de 1998.

A peça adulta vice-campeã – o primeiro prêmio foi para Milkshakespeare, do catarinense Júlio Zanotta Vieira – é uma politizada encenação em versos sobre o drama da saúde pública no Brasil: “A história começa no velório do protagonista, que se levanta e narra a via-crúcis que percorreu – pronto-socorro, SUS, INSS, médico particular, farmácia, burocracia – até morrer esperando atendimento numa fila”, descreve o autor.

Entre a primeira idéia e o texto definitivo, concluído no ano passado, se passaram quase dez anos. E a história continua mais atual do que nunca: “É triste, mas é verdade. A pressão sobre os postos de saúde e hospitais públicos é imensa, enquanto o SUS continua sofrendo com verbas e tempo desviados para a burocracia e a corrupção”, observa. “A saúde precisa urgentemente ser saneada”. E a peça seria uma forma de chamar a atenção para o tema: “Espero que grupos de teatro pelo Brasil afora se interessem em encenar a peça”. Até março, a Funarte deve publicar livros com os textos vencedores.

Prosaico

Embora também trate de um tema político – o golpismo militar na América Latina – a tragicomédia Sr. Melancia Quer Mandar, do jornalista Edílson Pereira, nasceu de uma forma bem mais prosaica: “A primeira idéia surgiu há uns três anos, quando a minha mulher começou a fazer teatro na FAP (Faculdade de Artes do Paraná), e me pediu para escrever umas esquetezinhas para encenar em sala de aula”, conta o editor da 2.ª Pág. de O Estado, que debutou na dramaturgia com o texto premiado. “Comecei a juntar militares argentinos com tango e viagens a Camboriú (SC), e a coisa começou a crescer. Vi que aquela história e aqueles personagens estavam pedindo mais vida, mais chão, e deixei a história fluir”, descreve.

Sátira

Cerca de oito meses se passaram entre as primeiras esquetes e o texto para teatro, que se transformou numa sátira aos golpes militares na América Latina – escrita bem antes do cultuado A Taça do Mundo é Nossa, longa-metragem do Casseta & Planeta que ridiculariza os anos de chumbo no Brasil. “Ao ler a história você fica sabendo por quê teve tanto ditador na América Latina”, comenta Edílson.

O texto premiado o inspirou a escrever outras três peças, que permanecem inéditas. Mas, ao contrário de Pellegrini, Edílson não demonstra grandes pretensões na dramaturgia: “Claro que eu gostaria de ver a peça encenada, mas o cotidiano no jornal absorve muito da gente”, ressalta. “O Domingos Pellegrini é um escritor profissional, pode se dedicar integralmente. O tempo que me sobra eu uso para criar”, arremata.

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