André Cypriano é um sujeito de presença marcante. A fala tranquila e o carisma do fotógrafo contagiam. Trata a todos com o mesmo respeito. É capaz de entrar e sair de áreas de conflito trazendo na bagagem retratos incríveis.
Gosta de documentar estilos de vida tradicionais e práticas de sociedades nos mais remotos cantos do mundo. Seus trabalhos têm lhe rendido diversas prêmios, assim como exposições em galerias e museus na América do Sul, Europa e nos Estados Unidos.
Em ação. Olho no olho, conversa com as pessoas que encontra, explica o propósito do trabalho, pede ajuda, cria vínculos. Para ele, entregar as fotos que tira para as pessoas retratadas é um compromisso, quase como uma religião. Fica muito triste quando não consegue localizar algum dos personagens retratados em seus livros.
Suas obras tratam sempre de temas polêmicos. Em Caldeirão do Diabo, Cypriano fez um impressionante registro da realidade brasileira e de suas contradições ao documentar o Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, litoral do Rio de Janeiro, seis meses antes de ser implodido.
O livro mostra o dia-a-dia do presídio, conhecido como Caldeirão do Diabo, e a atuação do Comando Vermelho, de indivíduos que dirigem ações criminosas mesmo atrás das grades. Em Rocinha, mostra a vida numa das mais famosas favelas da América Latina.
Negritude
A presença do negro na fotografia de André Cypriano sempre foi grande. Seu interesse pelo tema começou em 1993 quando o foto-documentarista visitou Salvador pela primeira vez.
Na favela da Rocinha, no Rio, ele morou com uma família de afro descendência para fazer o trabalho Rocinha. Em seguida fez os projetos Quilombolas e Capoeira.
Afro-Colombianos
Neste trabalho, que tem estréia internacional amanhã em Curitiba, na Galeria Portfólio, André mergulha no cotidiano dos negros que vivem na Colômbia. Descobriu que por lá o racismo é ainda muito pior que por aqui. Percebeu que a cultura negro-tupiniquim dialoga com as tradições e costumes dos afro-colombianos, mas com similaridades e diferenças inúmeras.
Para realizar o trabalho, André rodou por todo o país, principalmente sul e centro-oeste, incluindo as ilhas do Caribe, Providência e Saint Andrés, e as cidades de Bogotá e Cartagena.
Visitou palenques (como lá são chamados os quilombos) em áreas consideradas perigosas por conta da presença da Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC. Depois da capital paranaense, as fotos que compõe a exposição Afro-Colombianos seguirão para outras cidades em todo o mundo.
O fotógrafo
André Cypriano nasceu em 1964 em São Paulo. Em 1990, um ano após se formar em administração de empresas, começou a estudar fotografia em San Francisco, Califórnia. Hoje ele trabalha como fotógrafo freelancer em Nova York e Rio, e continua envolvido em projetos sociais e culturais.
Serviço
Exposição fotográfica Afro-Colombianos, de André Cypriano. Abertura amanhã, às 19h30, até 10 de março. Galeria Portfólio (Rua Alberto Folloni, 634, Ahú), Curitiba. Haverá workshops com o fotógrafo nesta sexta, sábado e domingo. Mais informações: (41) 3252-2540.