A metade sombria que ilumina o mundo

A partir de três personagens com destino incerto e passado dilacerado, Flavia Company, uma das mais importantes escritoras em língua espanhola da atualidade, conta a história de duas mulheres e um homem, herdeiros de dores muitas vezes indizíveis e implacáveis, vagando à procura de si mesmos ou por qualquer sentido para suas próprias vidas.

Com lançamento programado pela Editora Cubzac para junho de 2008, A metade sombria é o seu primeiro trabalho publicado no Brasil e a autora, que declara profunda admiração pela obra da brasileira Clarice Lispector, o descreve como um romance sobre o amor, a amizade e o medo da vida. ?Minha literatura explora questões humanas, busca compreender nossos fantasmas, nossos medos, nossa parte boa e nossa parte má?, explica Flavia. ?Meu objetivo é averiguar por que somos quem somos e por que somos como somos, saber o que nos faz melhores e de onde, apesar de tudo, tiramos forças para seguir adiante?, completa.

Flavia Company nasceu em Buenos Aires, em 1963, e vive em Barcelona. Escritora, jornalista, ensaísta e tradutora, é autora de extensa e importante obra narrativa, incluindo romances, contos e histórias infantis. Como cronista, escreve para El Periodico, de Barcelona, e no ABCD, de Madri.

Nessa entrevista exclusiva, Flavia Company fala sobre literatura, processos criativos e sobre a metade sombria que existe em cada um de nós.

– Como surgiu o livro A metade sombria?

Flavia Company – É difícil falar do nascimento de uma obra, por que não existe tanta diferença como na vida humana, quando, por alguns instantes, sentimos que muitas coincidências, realidades, pensamentos e observações se formam. A metade sombria reúne diversos gêneros literários, distintos pontos de vista e diferentes maneiras de aproximação com o mundo através de várias tradições literárias. Entre outros motivos, a obra surge da necessidade de declarar que no mundo existem diferentes histórias que os livros não registram e que, em geral, ninguém quer ver.

 – Para quem você escreve?

Flavia Company – Para todos que sentem que viver pode ser difícil e doloroso, mas que entendem que a vida é única e milagrosa.

– Quando é que surge uma idéia para você?

Flavia Company – Depende do que se trata. Quando se trata de uma novela, em geral, ocorre quando durante algum tempo me martela uma frase na cabeça. Então, fico meses, às vezes um ano inteiro ou mais, tentando averiguar a que história pertence essa frase, quem a disse, por que a penso tanto. Quando se trata de um conto, em troca me vislumbro e sinto não como frase, mas como uma história completa, do princípio ao fim, como uma idéia em forma de argumento, alguns personagens claros com um objetivo firme. Não faço um esforço das idéias para buscá-las insistentemente. Surge da própria vida, da observação, do desejo de conhecimento e de experimentar.

 – Qual é a importância da literatura em sua vida?

Flavia Company – Em tudo. Mas a literatura em si não é em essência o mais importante. O mais importante é a minha própria vida. A forma da minha pessoa estar no mundo. De me relacionar, suportar, amar, compreender, questionar, viver, sentir, racionalizar e explicar o mundo. A literatura, tanto a que leio quanto a que escrevo, faz parte de meu corpo, meu pensamento, meu cérebro, minhas recordações, minha identidade.

 – Se uma pessoa encontra você na rua e pergunta qual é o caminho, que você responde?

Flavia Company – O que a intuição acusar, não? Nunca nosso caminho poderá ser guiado por alguém. O caminho se encontra, enquanto prossegue fazendo alguma coisa, desejando-se desviar quando se chega o momento de se fazer algo. Não há caminho a andar. Nada necessita exatamente ir no mesmo caminho dos demais.

– Se tivesse de viver para sempre com uma personagem, com qual viveria e que razão a leva a tomar essa decisão?

Flavia Company – Os personagens são ficção e nos servem de exemplo, como ponto de referência. Não viveria jamais com um personagem, pois eles são imaginários. Gostaria de ter conhecido algumas pessoas que se convertessem em personagens, como Clarice Lispector e Julio Cortázar.

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