Ana tem 16 anos e uma inteligência privilegiada: se aborrece facilmente com as imbecilidades que ouve na escola e, por isso, vive isolada. Seu único amigo é Alex, de 18, também enfadado com os colegas de classe e dono de uma forma especial de manipular as pessoas, seguindo leis matemáticas. Juntos, Ana e Alex se proclamam pós-niilistas, pois nem no “nada” acreditam. “O curioso é que, ao se posicionarem assim, eles não percebem que, mesmo nesse vazio, existe uma crença”, comenta o diretor Felipe Hirsch que, na semana passada, terminou as filmagens de “A Menina Sem Qualidades”, série de 12 episódios sobre a trajetória errante dos dois jovens. Produzido pela MTV, o trabalho vai ser exibido a partir de 27 maio.

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A história é inspirada em um livro de mesmo título, escrito pela premiada escritora alemã Juli Zeh e publicado no Brasil pela Record. E, enquanto a trama da autora se passa em um ginásio da cidade de Bonn, a série nacional é ambientada em um colégio de classe média. “Juli oferece uma visão poética sobre essa geração, sem abrir mão de seus problemas e ambiguidades”, observa Hirsch, que conheceu o livro antes mesmo de ser editado no País, em 2009. “Recebi uma versão prévia do tradutor, Marcelo Backes, e tomei um susto: era uma história sobre adolescentes totalmente diferentes do que estamos acostumados a ver, especialmente na TV.”

Juntos, Hirsch e Backes combinaram um projeto, que acabou não vingando na época. Quando foi convidado pela MTV para comandar um trabalho envolvendo jovens, o diretor voltou a se lembrar de “A Menina Sem Qualidades” e da forte sensação que lhe causara. “Gosto muito de romance de formação e a questão principal desse livro são as falsas liberdades”, comenta. “Ao apresentar o retrato de uma sociedade livre, a história mostra como é difícil lidar com essa liberdade.”

Na adaptação, assinada pelo próprio diretor em parceria com Backes e Renata Melo, Ana (vivida por Bianca Comparato) é instigada por Alex (Rodrigo Pandolfo) a participar de uma brincadeira, misto de perversão sexual e submissão: seduzir o professor de literatura e espanhol, o argentino Tristán (interpretado por Javier Drolas, do filme “Medianeras”), cujo casamento está em crise. Ex-preso político, ele vem de um universo no qual as definições de bem e mal, assim como respeito ao próximo e pecado, ainda estão vigentes. “São valores tradicionais, algo que os adolescentes não têm ideia do que seja”, observa Hirsch.

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Ana aceita participar do jogo – por diversão e porque está apaixonada por Alex. Tristán cede aos encantos da menina e Alex filma o primeiro encontro dos dois. A situação se agrava quando Alex, com a conivência de Ana, ameaça divulgar o vídeo na internet se Tristán não continuar com a brincadeira. Sempre na mira da câmera de Alex, professor e aluna se encontram mais vezes, no ginásio do colégio. Mas o jogo toma um rumo inesperado quando o mestre se apaixona pela aluna. “No momento em que Tristán deseja Ana, transgride os padrões. E, quando ela vai se interessando aos poucos por ele, pela história de sua vida e sua visão de mundo, também quebra sua descrença”, comenta Hirsch. Logo, o jogo foge do controle. Os resultados são surpreendentes e colocam em xeque os valores tradicionais.

“Não estamos inaugurando um segmento na programação. Queremos, antes de tudo, surpreender nossa audiência, falando a língua dos jovens com liberdade, sem julgamentos, sem pudores. É um conteúdo mais sofisticado do que se encontra na TV aberta”, afirma Helena Bagnoli, diretora-geral da MTV Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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