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A maratona non sense de ‘5 X Comédia’ volta a SP

Uma Branca de Neve que busca entender os movimentos deste tempo para não se sentir menos… empoderada. Mais antiga que esta palavra, a princesa medieval eternizada por Walt Disney sentirá o choque da modernidade em 5 X Comédia, que volta em cartaz no Teatro Shopping Frei Caneca, onde estreou na cidade em 2017. “Ela tenta se encaixar nesse discurso de renovação”, conta a atriz Debora Lamm. “Às vezes, consegue, às vezes se atrapalha.”

Ao lado da atriz, outros quatro especialistas em humor interpretam estão na montagem: Bruno Mazzeo, Fabiula Nascimento, Lucio Mauro Filho e Katiuscia Kanoro.

O formato é o mesmo do espetáculo que estreou em 1993, idealizado e produzido por Sylvia Gardenberg e que ganhou mais duas versões em 1995 e 1999, cada um com cinco textos espertos em uma maratona de monólogos, com direção de Hamilton Pereira Vaz. Pelo projeto passaram nome de Andréa Beltrão a Denise Fraga, de Luiz Fernando Guimarães a Pedro Cardoso. Para a diretora Monique Gardenberg, que também produziu a primeira montagem, a sala de ensaio sempre foi espaço de invenção, por parte dos autores e elenco. “É muito bom ter um clima em que os atores são fonte de criação. É o sonho de qualquer diretor.”

O desafio de encarar a quarta versão tratou de redefinir o perfil das personagens. Além da Branca de Neve que lê Simone de Beauvoir – no texto de Julia Spadaccini, a plateia vai conhecer, um jovem de Nana Nenê, de Antonio Prata. No solo, Bruno Mazzeo interpreta um pai de primeira viagem enlouquecido com os desafios de fazer um bebê dormir.

A seguir, o dramaturgo Jô Bilac assina Arara Vermelha, em que Fabiula Nascimento sobe ao palco vestida como a dita cuja. No texto, a ave mora em um pet shop e não deixa de destilar seu ódio e irritação pelos demais moradores, nas vitrines ao lado, entre eles, cães fofinhos, que atraem mais atenção – de potenciais compradores. “Já tá lá o Poodle Queen se roçando na vitrine, se esfregando, balançando rabinho, se exibindo pros outros! Não pode ver um ser humano, já fica todo se querendo!”, é o desafio dado à Fabiula.

Sem deixar os bichos de lado, em Milho aos Pombos, assinado por Pedro Kosovski, a atriz Katiuscia Kanoro abre os bastidores da atuação ao encarnar uma singela e sonhadora figurante. Na entrevista por telefone, Monique faz uma pausa. “Viu só? A estrutura do 5 X faz com que o público se prepare para muitas surpresas. Saiu uma arara para entrar uma figurante e aspirante a atriz..”

Para a diretora, que volta a falar do período dos ensaio, o trabalho do elogiado elenco e dos autores reforça uma condição especial – e cara – ao teatro. “É o método de tentativa e o erro”, diz. “Durante os encontros, o compromisso era que o resultado na cena pudesse provocar as histórias e ganhar o público, como nas outras versões.”

Quem encerra a maratona é Lucio Mauro Filho, em Bola Branca, também de Jô Bilac. No texto, diante de um mundo submerso na urgência das notícias e no mundo digital, um homem falha na tentativa de meditar e esvaziar sua mente.

No momento em que esta última sinopse foi escrita, ao repórter surgiu uma indagação. Quem assistiu à primeira temporada de 5 X Comédia, em São Paulo, em 2017, vai lembrar que o texto feito por Lucinho era Regras de Convivência, escrito Gregório Duvivier.

Nele, o homem narrava a preparação de uma estranha “comemoração” destinada à sua mulher. Na versão que estreia nesta sexta, o solo do ator chama-se Bola Branca, como já foi dito, também de Jô Bilac, e que lembra um outro texto do mesmo autor carioca.

O leitor deve lembrar que o ano é 2016 e a peça chama-se Fluxorama, um sucesso em formato semelhante a 5 X e também dirigido por Monique Gardenberg, com quatro monólogos de Juliana Galdino, Luiz Henrique Nogueira, Marjorie Estiano e Caco Ciocler. Este último interpretava um homem que se trancava no banheiro de casa, em silêncio, com a missão de… tentar meditar.

As pistas são quentes e foram lançadas. Mais um motivo para testemunhar o estilo Jô Bilac de dramaturgia, agora com Lucinho.

5 X COMÉDIA. Teatro Shopping Frei Caneca. R. Frei Caneca, 569 – 7ª piso. Tel.: 3472-2229. 6ª, 21h, sáb., 19h, 21h, dom., 18h. R$ 60 R$ 30. Até 26/5.

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