A exposição Farnese (Objetos), que resgata a singular obra do desenhista, gravador e pintor Farnese de Andrade (1926-1996), abre para público de 15 de julho a 25 de setembro, no Museu Oscar Niemeyer (MON). Trata-se da maior exposição de obras do artista, que antes só participou de mostras coletivas, nunca com mais de 30 trabalhos. O MON realiza, no próximo dia 14, às 19h, a abertura da exposição a convidados.
Com o privilégio de quem desfrutou da amizade próxima do artista, o curador Charles Cosac, com o auxílio da co-curadora Jô Frazão, organizou um panorama da obra de Farnese. Ele reuniu nada menos do que 128 trabalhos. Segundo Cosac, o conjunto exibido representa um dos segmentos mais importantes do artista: as assemblages (ou objetos), muitos deles inéditos, pois raramente foram mostrados em público, tendo seu universo restrito a coleções particulares. ?O universo farnesiano impregnado nas assemblages é de uma riqueza conceitual, artística e estética que, até então, estava esquecida.?
A mostra já foi apresentada no Rio e em São Paulo, com grande sucesso de público e crítica. Entre as mais significativas, o curador destaca a obra O Orgasmo, uma de suas prediletas. Para ele, esta é a mais importante da exposição porque ?explica a passagem da bidimensionalidade para a tridimensionalidade?.
O curador também chama a atenção para as obras Anjo de Hiroshima e A Caixa de Hiroshima. ?Elas representam o único momento em que Farnese deixou de ser autobiográfico para falar de fatos.? O Ser, A Anunciação e Para Emmannoel, que se refere ao irmão que morreu antes de Farnese nascer, estão entre as obras que para Cosac marcam a produção do artista.
De acordo com os especialistas, Farnese nunca teve sua obra suficientemente analisada pela crítica e nem absorvida pelo mercado de arte durante os seus 50 anos de carreira. O artista até os anos 70 foi consecutivamente premiado ?de 1962 a 1970? e, praticamente, esquecido nas duas últimas décadas. Um Gênio Esquecido, como a ele se referiu a imprensa em 2002, por ocasião do lançamento do livro Farnese de Andrade.
Universo Farnesiano
Dono de uma ?personalidade difícil e de um trabalho marcadamente autobiográfico?, Farnese revelou nas obras sua densa trajetória pelas memórias da infância, do pai, da mãe, dos irmãos, do ?santo egoísmo da família mineira? e de seu primeiro e marcante encontro com o mar, aos 22 anos, no Rio de Janeiro.
Prisioneiro de sua solidão expressou principalmente o embate de seus medos, dores, tristezas, rancores, complexos, perdas, depressões, pânicos, relações, fetiches, libido, euforia e alguma alegria, analisa o curador. Natural de Araguari, no Triângulo Mineiro, Farnese iniciou a carreira como desenhista e gravador, mas acabou desenvolvendo um universo único em seus objetos. Utilizou-se, principalmente, de fragmentos de tradição tipicamente cristã como oratórios, maquinetas, imagens sacras, esmoleiros e afins. Assim como de galhos de árvores, bonecas, chaves, ornatos, enfim de elementos encontrados por acaso em suas longas caminhadas pelo aterro do Flamengo, a partir de 1964, ano que executou o primeiro objeto.
De acordo com Cosac, essa fase da obra foi batizada pelo próprio Farnese de Grande Alegria, que é também o título da apresentação da primeira exposição de objetos, realizada no Rio, em 1966. A fase foi descrita pelo artista no livro Farnese de Andrade.
?(…) A intenção de explorar praias mais longínquas vieram da descoberta da incrível riqueza do lixo de Barcelona, (…) principalmente nos corredores onde eu morava, antes de comprar o estúdio (…) na Espanha. (…) Joga-se de tudo fora, até a vida inteira de uma pessoa. (…) O prazer que me proporcionam esses achados nas mais variadas fontes, o encontro de duas peças que se completam, às vezes até existentes no caos de meu ateliê, e o ver a obra pronta, completa, definitiva. É aí que reside minha grande alegria.?
Serviço
Exposição Farnese(Objetos)
Abertura para convidados: 14 de julho, às 19h
Aberta ao público: 15 de julho a 25 de setembro
Onde: Museu Oscar Niemeyer
Endereço: Rua Marechal Hermes, 999
Centro Cívico – CEP: 80530-230
Telefone: (41) 3350-4400
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h
Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes identificados (Crianças de até 12 anos, maiores de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas, pré-agendados, não pagam)