A magia só mediana do novo Woody Allen

Com ‘Magia ao Luar’, em cartaz, autor confirma o ritmo binário, um grande filme seguido de outro mais ou menos, que tem sido a tônica de sua fase recente

Woody Allen tornou-se um fenômeno de persistência. Há mais de uma década que ele faz um filme por ano, todos os anos. Numa entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, anos atrás, em Cannes, ele disse que era uma questão de método. “Minha vida é muito metódica. Gosto de ter de escrever, de filmar. Se não fosse um prazer, não manteria essa regularidade. Já consigo me manter, se resolver ter um ano sabático”, brincou. Enquanto esse hipotético ano sabático não chega, Woody Allen apresenta o novo filme, Magia ao Luar. O próximo já está em pós-produção e, como sempre, se chama provisoriamente Untitled Woody Allen Project.

Magia ao Luar mostra Colin Firth como mágico cooptado por amigo – e colega de profissão – para desmascarar vidente que está encantando/manipulando uma rica família da Cote d’Azur. Emma Stone, a namorada do novo Homem-Aranha, é quem faz o papel. A situação não é nova no cinema do autor. Woody Allen já mostrou outras vezes mágicos e prestidigitadores. No conceito da magia está embutida sua ideia do cinema. O diretor não deixa de ser uma espécie de mágico, manipulando o espectador para levá-lo a crer que o que é bate na tela, e é só luz, pode ser uma fatia de realidade.

Colin chama-se Stanley Crawford e, de certa forma, não deixa de ser uma fraude. Apresenta-se como um oriental – Wei Ling Soo – que, de cara, faz desaparecer um elefante e corta uma mulher ao meio, mas cobra dos assistentes que quase arruinaram seus números da noite. A própria produção esclarece que Crawford/Ling Soo seria inspirado num certo William Ellsworth Robinson, que se apresentava como mágico chinês – Chung Ling Soo – , no século 19, e era conhecido por desmascarar truques usados por falsos médiuns. Crawford desembarca na Riviera disposto a expor a farsa de Emma, que se chama Sophie Baker e tem uma mãe esperta (Marcia Gay Harden), que se encarrega da condução de seus negócios.

Crawford tem uma vida metódica (como a de Woody Allen?), o que inclui a mulher adequada, isto é, racional como ele. A relação de ambos é morna, mas se aproximar de Sophie é como brincar com fogo. Crawford apaixona-se e chega a ficar dividido entre desmascarar ou não o objeto de seu desejo. Na verdade, a paixão o torna cego para identificar os fios da teia com que está sendo urdido seu envolvimento.

De forma um tanto demonstrativa, o roteiro apoia-se sobre duas cenas chaves para desmontar a farsa. Um diálogo com a velha tia (sobre o amor) e o monólogo com que o herói, qual Hamlet – ‘Ser ou não ser’ -, reflete sobre o olhar. O cinema, dizia Nicholas Ray, é a melodia do olhar. O que Crawford está deixando de ver em Magia ao Luar? O novo filme de Woody Allen é, portanto, sobre o olhar. E não deixa de ser mais uma tentativa do ator/autor/diretor de se explicar das múltiplas acusações que têm sofrido desde sua separação litigiosa de Mia Farrow. Por meio de Crawford, Allen admite-se, de novo, culpado de amar demais.

É divertido, mas pouco impactante. O capricho visual, os tons pastel, a trilha, a marca está toda lá. Talvez seja a obrigação de fazer um filme ao ano. Na fase recente, Allen tem alternado um grande filme (Meia-Noite em Paris) com outro médio (sua aventura romana, Para Roma, com Amor, para permanecer na Europa). O ritmo binário repete-se. Após outro grande filme (Blue Jasmine), um médio (o atual). Pela lógica, o próximo, ainda sem título, terá de ser grande.

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