Aramis Chain, historiador, professor, livreiro e membro atuante do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, administrou palestra pela quarta vez, aos 13 de março de 2003, no Ceebeja – Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Ayrton Senna, na cidade de Almirante Tamandaré-PR. Com criticidade, dinâmica e espírito democrático (diálogo com os estudantes), a conferência excedeu a expectativa dos presentes. Aliás, Doroti de Souza Coelho (diretora de ensino) comentou que “o Chain é um patrimônio cultural e que já faz parte da nossa comunidade escolar”.
O palestrante enfatizou, além da importância da ética, da moralidade e do domínio da história, a prática da leitura diária como forma de libertação. Concordo com o Chain. A plena liberdade só vai se consolidar no Brasil quando todos dominarem o conhecimento e este ocorrerá especialmente por intermédio da leitura. Os trabalhadores (responsáveis pela produção das riquezas), com domínio nas diferentes áreas do saber, neutralizarão as estruturas anacrônicas que persistem. Entendo democracia como sinônimo de país culto.
Além dessa visão do Chain, existem outras duas visões que podem ser destacadas. A primeira refere-se à leitura como forma de alcançar o sucesso. Mussa José Assis, jornalista e diretor de Redação do jornal O Estado do Paraná, ao ministrar aula magna na PUCPR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná para estudantes de Jornalismo, aos 17 de outubro de 2002, explicou: “Só adquire cultura e, conseqüentemente, bom emprego, quem estudar muito, escrever bem e, para isso, é preciso ler. Pessoalmente, dedico mais de duas horas para leitura, diariamente. O bom aluno vai além do que a universidade ensina. Deve interessar-se por literatura, teatro, artes, economia, política, ciências, generalidades. Mais ainda, precisa desenvolver e aguçar a criatividade, acompanhar atentamente os acontecimentos locais, nacionais e internacionais” (O Estado do Paraná, 19 de outubro de 2002). A argumentação do Mussa é sábia. Vive-se a era do conhecimento, não existe mais espaço para a mediocridade.
A segunda visão aborda o desinteresse de grande parte dos alunos no tocante às leituras e ao modelo do ensino vigente. Aos 21 de abril de 2002, em pesquisa realizada pelo autor deste artigo, publicada neste caderno, Cátia Toledo Mendonça, mestre em Literatura Brasileira pela UFPR – Universidade Federal do Paraná, doutoranda em Literatura Brasileira pela UFPR e professora das disciplinas de Literatura Brasileira, Teoria Literária e Literatura Juvenil na PUCPR, fez a seguinte análise: “O que se pode afirmar é que os estudantes egressos do ensino médio têm uma bagagem de leitura muito pequena, não conhecem autores, obras… Quando me refiro a essa falta de leitura, não me reporto às obras literárias somente, mas a todo tipo de conhecimento. Os alunos parecem se interessar por poucos assuntos que não estejam diretamente ligados ao seu cotidiano.(…) É necessário que nossos jovens façam “malhação mental”, que se acostumem a ler de tudo, não apenas esses livrinhos água-com-açúcar que a escola os obriga a ler para depois fazer aquelas famosas provas, com questões inteligentes como, por exemplo: Quem é o protagonista da história?(…) Acho que o que existe é uma escola que se mercantiliza, em função de uma sociedade capitalista, que só dá importância àquilo que traz lucro. Como o conhecimento e a sabedoria não são rentáveis – os inúmeros cientistas e professores doutores brasileiros que o confirmem – não são valorizados pelo sistema de ensino”.
Analisando o olhar de Cátia, a escola não cumpre a missão de libertar e de gerar consciência crítica. A escola está em crise. Em geral verifica-se que as escolas não estão interessadas na formação do educando, mas em atender às necessidades do mercado. Márcio José Bodziak (em monografia para a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2000), explicita: “A linguagem referente à mercoescola está presente na lei que estabelece as diretrizes e bases da educação – Lei n.º 9.394, de 20/12/1996 – e no vocabulário utilizado, como: competitividade, vantagens comparativas, produtividade, eficiência, gestão e controle. Assim, os problemas da educação brasileira são colocados como problemas gerenciais, procurando repassar a responsabilidade pela manutenção do ensino aos estados, municípios e às próprias comunidades”. No livro Fragmentos da globalização na educação (organizado por Márcia Ondina Vieira Ferreira e Alfredo Alejandro Gugliano), José Clóvis de Azevedo (2000, p. 198) aborda que no plano da atualização do professor já não se observa mais a concepção da idéia de formação, mas de treinamento, abrindo a capacitação para quem já tenha formação superior e se interesse pelo magistério, ou seja, abre-se mão da formação específica do docente, afinando-se com “o objetivo das políticas neoliberais de desconstituição das categorias profissionais e desmonte de seus sindicatos”.
Considerações
O conhecimento é direito de todos. Aqueles que o retêm alimentam o capitalismo. Parabéns, Chain, Mussa e Cátia, pela partilha de seus conhecimentos.
Jorge Antonio de Queiroz e Silva
é historiador, professor e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. E-mail: queirozhistoria@terra.com.br