O Pânico na TV estreou, no dia 23 de setembro de 2003, com ares de amadorismo, pouca verba para produção e nenhum prestígio. Hoje, após quase dois anos, a situação é diferente. Embora o jeito amador do programa da RedeTV! esteja lá bem preservado, o humor escrachado dos integrantes subiu a audiência a ponto de deixar qualquer famoso temeroso de ser alvo do quadro Sandálias da Humildade e turbinou suas contas bancárias. O ibope, com média de 10 pontos e pico de 17, num horário disputado por nomes de peso, como Fausto Silva e Gugu Liberato, assusta a concorrência. Tanto que a trupe, sob o comando de Emílio Zurita, já recebeu propostas de outras emissoras.
O segredo de Pânico na TV é justamente banalizar os infortúnios. Quando a produção contava com um orçamento de apenas R$ 1.200 e um único cinegrafista para filmar as cenas externas, bastava dar um probleminha para os integrantes já transformarem a situação em piada. Aliás, eles não só se divertem com a desgraça alheia, mas com a deles também. Tanto que hoje, com um pouco mais de dinheiro para produção, cerca de R$ 5 mil, os integrantes reivindicam um novo cenário. Só que de uma maneira um tanto inusitada. Além de destruírem literalmente o ambiente, eles gravaram as reuniões com os diretores da emissora, onde prometiam mudanças. Mas a turma parece não ter papas na língua mesmo. Dia desses, o carro da produção quebrou e eles não hesitaram em falar que se fosse o veículo do Superpop isso não teria acontecido. Insinuavam que o outro programa tinha preferências por conta do namoro da apresentadora Luciana Gimenez com o vice-presidente da emissora, Marcelo Carvalho. Numa televisão marcada pela padronização de linguagens, o programa agrada justamente por cultivar essa falta de limites e apostar mais no erro do que no acerto.
Os maiores destaques do programa, sem dúvida, são Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo, e Wellington Muniz, o Ceará. A dupla freqüenta todas as badaladas festas à caça de celebridades. Mas não da mesma forma dos outros colunistas eletrônicos. Os rapazes não bajulam e muito menos enaltecem os artistas. Eles desafiam as celebridades para um verdadeiro jogo de artimanhas, onde o maior objetivo é desestabilizar a aparente segurança das estrelas. Entre uma gaiatice e outra, nem todo mundo tem jogo de cintura com as brincadeiras. Paulo Maluf que o diga. O político ficou desconcertado ao ser entrevistado pelo Repórter Vesgo, que pediu o número de sua conta na Suíça para comprar um terno novo. Justamente na época em que Maluf era acusado de desviar dinheiro público para contas no exterior. Mas nada se compara a atitude de Luisa Tomé. A atriz partiu para cima do Ceará depois que ele fez uma piada sobre o tamanho do nariz do seu marido, o empresário Adriano Facchini. Já Vitor Fasano, que andava meio sumido da mídia, revidou com um soco o infame trocadilho do Repórter Vesgo: Vítor, ‘faz anos’ que não te vejo.
Só que a dupla transformou essas adversidades em mais um produto do programa. Basta um artista destratá-los para ter de enfrentá-los no quadro Sandálias da Humildade, onde Vesgo e Ceará carregam uma sandália de borracha com tiras de papel para os artistas calçarem. A última vítima foi Jô Soares. O dominical é uma paródia do universo cultural da tevê brasileira, sem perder de vista a provocação e um divertido sentido de excesso, de over. E é justamente o fato de não ser nada convencional que faz o programa conquistar um público cativo.