Imagine que aos 12 anos você sofra um acidente e perde a visão de um olho. Sete anos mais tarde, uma doença atinge a sua outra visão, jogando-o a um mundo de completa escuridão.
Mesmo sem contar com o principal dos cinco sentidos, você consegue superar todas as adversidades e se tornar um atleta respeitável, alcançando o status de ser tetracampeão paraolímpico.
Isso até pode parecer um roteiro de cinema, mas na verdade é um breve resumo da vida do judoca paulista Antônio Tenório da Silva, único atleta brasileiro a conquistar ouro em quatro paraolimpíadas consecutivas (Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008).
A vida – e o exemplo – do judoca pode ser visto no documentário B1 – Tenório em Pequim, que estreia hoje em Curitiba. O projeto, encabeçado pelos diretores estreantes Eduardo Hunter Moura e Felipe Braga e pelo produtor-executivo Gustavo Gama Rodrigues, mostra a preparação do atleta até as Olimpíadas de Pequim, no período de abril a setembro de 2008.
De acordo com Moura, a concepção deste projeto surgiu quando eles conheceram o atleta nos Jogos Parapanamericanos do Rio de Janeiro, em 2007. “O Tenório foi o campeão na categoria dele, que é a B1 (totalmente cego) até 100 quilos, e chamou a atenção da mídia. Nós achamos interessante a sua história e decidimos que ela merecia ser contada. Aproveitamos o timing certo, pois pegamos o ano em que haveria esta competição tão importante e mostramos como foi seu trabalho em busca do ouro”, explica.
Em princípio, Tenório da Silva achou se tratar de algum tipo de brincadeira, mas quando viu a seriedade do projeto, aceitou na hora a proposta dos diretores. “Vi que eles não estavam de brincadeira e achei que seria interessante contar um pouco mais sobre mim. Eles não me incomodaram em nenhum momento e sempre me deixaram bem à vontade. Foi um imenso prazer trabalhar com estas pessoas”, revela.
Sem cair na armadilha de fazer um filme excessivamente sentimental, em que o judoca passaria a impressão de um “pobre coitado”, Moura conta que o objetivo sempre foi a de fazer um registro de um esportista que, como qualquer outra pessoa, possui limitações.
“Sempre mostramos o Tenório como um grande atleta. Quisemos transmitir às pessoas que, apesar da deficiência visual, ele é uma pessoa normal. Aliás, mais do que isso, mostramos a história de um herói nacional. Claro, há momentos emocionantes no documentário, mas sem que isso ficasse exagerado ou piegas”, afirma.
Para conseguir registros bem próximos do atleta, o produtor-executivo conta que contaram com o apoio da Federação Internacional de Judô e do Comitê Paraolímpico Internacional.
“Essas instituições enxergaram no nosso trabalho uma plataforma interessante para mostrar e divulgar atletas paraolímpicos. Foi um desafio grande, mas que felizmente foi muito bem sucedido. Conseguimos filmagens na sala de concentração e tínhamos câmeras muito próximas do tatame. Acho que não seria um exagero em afirmar que este é o registro mais próximo que um atleta já teve”, garante.