A favor da ficção

Werner Schunemann hesitou diante do convite para fazer Eterna magia, na Globo. Afinal, com seus 47 anos ele interpretaria o pai da personagem de Malu Mader, que tem 40 de idade. Ele achou que poderia ficar estranho, confuso. Mas o diretor Carlos Manga o convenceu do contrário. O ator topou incorporar o irlandês Maximiliam e, com o decorrer dos capítulos, já não acha mais esquisito ter como filha uma atriz que poderia ser, no máximo, sua irmã. ?É ficção, as pessoas sabem disso e estão entendendo. Acho que eu estava errado quando me preocupei com esse detalhe da idade?, defende o ator.

Com a mudança de fase que aconteceu recentemente no folhetim, o personagem está ainda mais velho, com 55 anos. A única alteração no visual é que a barba está mais cheia. ?Não adiantou muito, mas não importa?, opina Werner, ao emendar que é a favor do uso da teledramaturgia para o despertar da imaginação e da fantasia. Ele respeita, mas não gosta das novelas realistas-naturalistas que são feitas hoje em dia. ?Dentre todas as atividades humanas, a dramaturgia é a única que tem o dever de mistificar?, filosofa.

O tom de fábula e de lenda da trama de Elizabeth Jhin é justamente o que faz o ator assistir às suas cenas. Em geral, ele não consegue se ver. Isso desde os tempos em que dirigia e produzia filmes no Rio Grande do Sul, onde viveu até 2002. Werner fica nervoso, não gosta da sua imagem, fica sempre com a impressão de que não conseguiu chegar onde queria. ?É uma fragilidade minha. Tenho muito receio de que um dia alguém vai fazer um comentário tão certeiro que vai me destruir para sempre?, teoriza sem rodeios.

Esse pavor acompanha sua vida profissional desde os primórdios. Ele já tinha mais de 20 anos de carreira no cinema quando estreou em grande estilo na tevê, como Bento Gonçalves, de A casa das sete mulheres, o personagem mais marcante de sua trajetória no veículo. Segundo Werner, o fato de ter surgido na televisão com um papel relevante não deveria influenciá-lo, mas o atormenta. Ele sempre está em busca de uma próxima grande figura para interpretar. ?A gente quer se manter lá em cima o tempo todo. Mas não dá para conseguir sempre a repercussão que tive com o Bento Gonçalves e isso me deixa ansioso?, reconhece.

O carinho pelo trabalho em que incorporou o líder da Revolução Farroupilha é realmente grande. Foi essa a primeira proposta que o convenceu a abrir mão da sólida carreira como diretor de cinema para investir em um veículo que não conhecia e que ainda julga ser o mais difícil de fazer. ?Os atores falam muito de teatro, mas lá tem rotina. É a mesma luz, o mesmo cenário. Na tevê eu me sinto uma criança solta no meio do mundo?, diz, ao lembrar ainda que o retorno de um público formado por 40 milhões de pessoas é outro fator que o seduz.

O fascínio é tanto que, pelo menos a curto prazo, Werner Schunemann não tem planos de voltar à direção. ?Diretor sofre muito, já o ator se diverte o tempo todo?, confirma. Para ele, a opinião mais importante depois da do diretor, é a de outros atores. ?Fico feliz quando impressiono positivamente meus colegas?, assume sem vaidades. Ele conta que se entrega com vigor físico para o trabalho, porque seu maior desejo é agradar os profissionais que com ele trabalham. E a si mesmo, enquanto está ali representando. ?É melhor fazer do que assistir. Sou um confeiteiro diabético. Não gosto de consumir o que produzo?, diz. 

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