Da segunda metade do século 19 até a década de 50 do século 20, várias capitais da Europa exibiam seres humanos como atrações em zoológicos. Membros de tribos africanas, esquimós, povos indígenas da América do Sul, tuaregues árabes e outras populações de tipo físico, cor de pele, raça e costumes distantes e diferentes dos europeus eram confinadas em jaulas e expostas à visitação pública mediante pagamento de ingresso, ao lado de outras espécies animais.
A prática era comum na maioria dos zoológicos das grandes cidades da Europa e servia como forma de reafirmar a supremacia branca européia sobre os povos colonizados.
Esta situação de exploração do ser humano por seu semelhante inspirou o escritor curitibano Guido Viaro a escrever seu sexto romance, No Zoológico de Berlim, uma produção independente de 235 páginas. A idéia de criar a obra veio de uma visita de Viaro ao zoológico da capital alemã.
Segundo Viaro, que estudou a fundo o tema antes de escrever o livro, não somente o zoológico de Berlim exibia seres humanos, mas também os zoos de Barcelona, Paris, Stuttgart, Turim, Nova Iorque, entre outras grandes cidades da Europa e Estados Unidos. No início do século 20 essa prática continuou, mas já havia muitas das pessoas expostas que recebiam uma pequena remuneração, e até circulavam livremente pelo zoológico sendo expostas, mas não em cativeiro. A última pessoa exposta assim foi vista em 1956, no zoológico de Berlim. Em Bruxelas, em 2002, houve uma exposição de pigmeus, que apesar de receberem remuneração gerou uma onde de protestos.
O livro No zoológico de Berlim é uma obra ficcional baseada em fatos reais. Conta a história de M’ba Nkrumah, um africano de trinta e poucos anos casado e com dois filhos, que trabalhava na agricultura e que vivia na colônia alemã da África Oriental (atual Tanzânia). Fluente em alemão, M’ba é capturado e levado para exposição no zoológico de Berlim. Depois de um período de grande depressão onde cogita o suicídio, ele decide que, para ajudar a suportar a rotina, vai escrever um diário contando os eventos de seus dias.
O livro, portanto é a transcrição desses diários. Além de relatar os acontecimentos, M’ba impõe questionamentos, expõe suas dúvidas, questiona o sistema tribal, a civilização ocidental, Deus e os sentimentos humanos, expondo de maneira clara a montanha-russa emocional que viveu o período em que ficou confinado.
Ele tem dois companheiros de condição, um índio norte-americano e um esquimó, os quais nunca chegou a conhecer por estarem expostos além de seu campo de visão. Mesmo assim quando descobre que tinham morrido em cativeiro, sofre um grande golpe: naquele instante boa parte dele mesmo havia morrido.
M’ba sabia ser sua condição simbólica, e por isso mesmo, muito mais do que sua própria vida, o que estava em jogo era qual seria o caminho que a humanidade tomaria em relação a seus semelhantes. Muitos dos visitantes lhe prestavam solidariedade e julgavam um absurdo sua presença ali, mas outros não o achavam diferente de um macaco ou de um leão.
Romances
No zoológico de Berlim é o sexto romance de Guido Viaro, autor de O quarto do universo (que teve versão cinematográfica dirigida pelo próprio autor), A mulher que cai, Glória, A praça do Diabo Divino e Embaixo das velhas estrelas.
Assim como nos livros anteriores, exemplares de No zoológico de Berlim já foi distribuído para 800 bibliotecas públicas de todo o Brasil. O autor também está disponibilizando o livro para download gratuito no endereço www.guidoviaro.com.br.
Guido Viaro é neto homônimo do pintor italiano que foi um dos mais ativos representantes do Modernismo nas
Artes Visuais no Paraná.