Grupos indígenas, afrodescendentes, pesquisadores da cultura popular, participantes de grupos artísticos, historiadores e público em geral estiveram reunidos no 1.º Encontro Paranaense de Cultura Popular, organizado pela Secretaria de Estado da Cultura e Prefeitura Municipal de Castro, no Teatro Bento Mossurunga, em Castro.
O encerramento ocorre hoje, com apresentação do Grupo de Teatro Filhos da Lua, Grupo Arcos, de Florianópolis, performances dos artistas populares Hélio Leites e Efigênia Rolim, além do show do Fandango Meu Paraná. Todas as atividades são gratuitas.
Na abertura do evento, na última quarta-feira, o Grupo Mundaréu deu o tom do evento com o show ?Embala Eu?, de música popular e indígena. Na quinta-feira, os representantes das nações indígenas paranaenses Guarani, Kaigangue e Xetá derem seus depoimentos auxiliados pelo indigenista Edívio Battistelli.
Segundo eles, atualmente, a maior preocupação dos xetás é a demarcação de suas terras, uma vez que vivem na aldeia Kaigangue e Guarani. ?Somos apenas oito xetás puros, mas temos consciência de que há muita coisa a ser preservada. Nossos descendentes, cerca de 80 pessoas, estão espalhados, por isso precisamos de uma terra nossa?, afirma Ticuen Xetá.
Os Xetás são o único tronco genuinamente paranaense. Viviam na região de Umuarama e a tribo se caracterizava pelas atividades coletoras e de caça. Eram grandes consumidores de erva-mate, se alimentavam de peixes, mel, frutas, mandioca, milho e cobras. ?Minha mãe morreu no mato sem conhecer o homem branco. Eu só vi gente branca com oito anos. Casei com uma mulher branca e tivemos 12 filhos, mas só sete estão vivos. Temos 36 netos e precisamos unir novamente toda essa gente. Dizem que se a gente quiser tem de comprar terra. Onde já se viu, índio comprar terra?, exclama indignado.
A tribo xetá, segundo Battistelli, vivia, há 50 anos, na Idade da Pedra Lascada. ?O encontro com a cultura branca foi violenta. Mas eles ainda conhecem muito da cultura deles. No entanto, a língua Xetá não está registrada. É uma cultura que corre sérios ricos de se perder?, alerta.
Já os guaranis aprendem na escola tanto a língua materna como o português. A nação Guarani se espalhava por um território imenso: Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina e até hoje eles se visitam nas aldeias desses países. ?Esse povo sobrevive graças ao ethos tribal religioso. A espiritualidade dos guaranis é muito forte e os mantêm unidos?, conta o indigenista Battistelli.
?Mantemos viva 98% da nossa cultura original. Os 2% restantes se referem ao uso de roupas e alimentos. Vivemos do que plantamos-milho, feijão, mandioca, batata-doce e temos algumas galinhas. Mas o que mais fazemos é cantar cantigas que contam a nossa história, e de agradecimentos?, explica Dionísio Rodrigues, professor de guarani e português, na Ilha da Cotinga, em Paranaguá.
Na sexta-feira, foi promovida uma discussão sobre o Tropeirismo e o Sagrado e as Festas do Povo. Além disso, ocorreu apresentações do Grupo Fogança, da Universidade Estadual de Maringá, da Folia de Reis, de Castro, e do Rufo de Adufo, com os grupos Mandicuéra e Caiçaras do Paraná, de Paranaguá. Ontem, tempo foi reservado para a Diversidade Étnica Paranaense e o Fandango.