Ao ler a Folha de S. Paulo (eu costumo ler em média seis jornais por dia) encontro a crônica de Luiz Nassif, sob o título “A dama do luar”. Escreve ele: “Acabo de receber o CD Quixote, de Renato Braz, resultado de sua vitória como Melhor Intérprete do Prêmio Visa deste ano. Um trabalho impecável do nosso maior cantor. Mas, quando cheguei à faixa 12 e ouvi Onde está você, de Oscar Castro Neves e Luverci Fiorini, a lua que entrava pela sacada do apartamento da Rua Rio de Janeiro tornou-se linda. Começava pela voz de Renato e por um arranjo de piano e cordas de Laércio Freitas, meu amigo “Tio”, o mais bonito arranjo que ouvi para uma das mais belas músicas brasileiras de todos os tempos. Subitamente, cala-se o mundo para abrir espaço para a voz da intérprete original, Alaíde Costa, a grande dama do luar. A voz está um pouco trêmula, mas inteira para os 67 anos de carreira impecável.
“Hoje a noite não tem luar/Já não sei onde te encontrar/Para dizer como é o amor/que tenho pra lhe dar.”
Uma tão bela manifestação de um jornalista de renome não permite tal erro de concordância. Luiz Nassif escrever repetindo a falha tudo bem, mas ao autor da música é impossível falar em “te encontrar” e “pra lhe dar”.
E a revisão da Folha deixou passar? Na verdade, nas regras não escritas do jornalismo, não cabe à revisão alterar o texto de uma crônica assinada. Ela poderia, por exemplo, conversar com o autor, mas é sabido que Luiz Nassif não escreve na redação da Folha e, portanto, só poderá ser procurado pelo telefone. A revisão, se percebeu o equívoco, não teve, contudo, disposição para ir em busca do autor, pois poderia ser entendida como estando a se intrometer em uma questão particular. Por certo que somente na visão do autor, pois que acima de todos está o interesse do leitor que tem o direito de receber o jornal escrito em acordo com, ao menos, o elementar das regras da língua pátria. No Rio Grande do Sul não há dúvida de que esse “pra lhe dar” afetaria o ouvido do leitor gaúcho. E será que só lá?
P.S. – Alô amigos da redação. Cuidado com a concordância que o Nassif é bem capaz de querer dar o troco. Além do mais o nosso leitor merece respeito. À luz do luar, ou à luz do sol.